O motivo das constantes “fugas” de Haddad
As declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um podcast político repercutiram não apenas pelo conteúdo econômico, mas também pela forma — e pelo que ela revela sobre a dinâmica de poder dentro do governo. Ao se referir ao “reajuste do IOF do Haddad”, Lula dá um passo atrás da decisão, como quem lava as mãos e transfere o desgaste diretamente para o ministro da Fazenda.
A escolha das palavras não é casual. Em momentos de impopularidade ou pressão, setores da esquerda adotam um método recorrente: deslocar o ônus das decisões para figuras mais vulneráveis dentro do próprio campo aliado, enquanto preservam a imagem da liderança central. No caso de Lula, a blindagem pessoal parece prioridade — mesmo que isso custe a imagem e a autonomia de nomes importantes da Esplanada.
É simbólico que até Gleisi Hoffmann, presidente do PT e crítica feroz do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tenha moderado seu discurso ao se referir ao atual diretor Gabriel Galípolo, possível sucessor no comando da instituição. A política, aqui, se curva à conveniência.
Haddad, por sua vez, parece cada vez mais isolado — uma percepção que já ecoa no Congresso. Possível candidato ao Senado por São Paulo em 2026, o ministro evita confrontos diretos e, como dizem nos corredores de Brasília, “viaja demais”. Não sem motivo: ao perceber que foi rifado nos bastidores, entrar em todas as disputas do “barba” (apelido interno de Lula) talvez não compense mais.
A fritura pública de aliados não é nova na trajetória de Lula. Ministros já foram sacrificados para preservar a imagem presidencial — e os sinais se repetem agora. O “peão” da vez é Fernando Haddad, que, apesar dos esforços para equilibrar as contas públicas e dialogar com o mercado, enfrenta resistência dentro e fora do Planalto. E, ao que tudo indica, já não conta com a proteção do rei.
O episódio escancara uma prática comum na política: quando o desgaste é inevitável, alguém tem que pagar a conta. E, no tabuleiro de Lula, a regra permanece a mesma — o peão é sempre o primeiro a cair.