Carta aberta a Guga Chacra por entidades sionistas é desmoralizante e repercute na Web

O jornalista Guga Chacra, comentarista internacional da GloboNews, tornou-se alvo de críticas contundentes após entrevista com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, durante o programa Estúdio i. A condução da entrevista foi duramente contestada por grupos ligados à comunidade judaica, que acusaram o jornalista de promover “desinformação ideológica” sob o disfarce de crítica jornalística.

A reação mais incisiva veio por meio de uma carta aberta assinada pela Hasbara Brasil e pela Juventude Judaica Organizada, duas entidades pró-Israel ativas na defesa do sionismo e da imagem do Estado israelense no Brasil. O documento viralizou nas redes sociais e gerou forte repercussão, tanto entre apoiadores quanto críticos da postura de Chacra.

Críticas ao jornalista

Na carta, os grupos acusam Guga Chacra de “ultrapassar o limite do jornalismo responsável” e de usar uma retórica “enviesada, perigosa e moralmente indefensável”. O texto cita passagens específicas da entrevista, nas quais o jornalista teria sugerido que o governo de Israel sabota acordos de paz, prefere ações militares e mantém arsenal nuclear sem transparência — críticas recorrentes a Tel Aviv na arena internacional.

Os signatários do texto rebatem esses argumentos com uma lista de pontos que defendem a atuação de Israel como “estratégica e defensiva”, sobretudo diante das ameaças do Irã e de grupos como o Hamas e o Hezbollah.

Entre os principais tópicos abordados na carta estão:

  • A suposta “distorção” sobre o acordo nuclear de 2015 com o Irã;

  • A denúncia de que Chacra teria ignorado os riscos do enriquecimento de urânio a 60% pelo regime iraniano;

  • A crítica ao questionamento sobre a não adesão de Israel ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP);

  • A acusação de que o jornalista teria sugerido que Israel prefere bombardear civis a negociar;

  • A condenação do que chamaram de “duplo padrão moral” aplicado ao Estado judeu.

Reação nas redes sociais

A entrevista gerou uma onda de manifestações nas redes. Setores da esquerda comemoraram a condução da conversa, classificando-a como um “constrangimento ao embaixador israelense”. Já apoiadores de Israel e representantes da comunidade judaica afirmaram que o jornalista utilizou a plataforma para difundir visões “tendenciosas” e “antissionistas”.

A hashtag #GugaChacra figurou entre os assuntos mais comentados no X (antigo Twitter), com milhares de mensagens tanto de apoio quanto de críticas ao jornalista.

Sem resposta oficial até o momento

Até o momento, Guga Chacra não respondeu publicamente à carta. A GloboNews também não se pronunciou sobre o episódio. O embaixador de Israel, por sua vez, agradeceu o apoio da comunidade judaica, mas evitou comentar as críticas à condução da entrevista.

O caso reacende o debate sobre os limites do jornalismo opinativo, especialmente em temas altamente sensíveis como o conflito no Oriente Médio, a política nuclear do Irã e as ações militares israelenses.

Confira:

“Esta carta é assinada por Hasbara Brasil e pela Juventude Judaica Organizada, duas iniciativas sionistas comprometidas com a defesa da verdade, do povo judeu e do Estado de Israel.

Sua pergunta ao embaixador de Israel no ‘Estúdio i’ representa mais um episódio de desinformação disfarçada de análise, e não pode ficar sem uma resposta clara e fundamentada.

Algumas nuances importantes podem ter se perdido devido à barreira linguística enfrentada pelo embaixador, especialmente diante da complexidade do tema e da condução enviesada da entrevista. Por isso, decidimos complementar o que foi dito, com clareza, firmeza e em português direto.

Guga, você ultrapassou, mais uma vez, o limite do jornalismo responsável e entrou no terreno perigoso da desinformação ideológica, convenientemente disfarçada de “crítica equilibrada”.

Apresentamos a seguir uma resposta clara, objetiva e baseada em fatos. Afinal, o que você disse não apenas distorce a realidade, mas exige um confronto público.

Organizamos os pontos de forma didática. Inclusive para você.

1.O acordo com o Irã não foi sabotado. Ele foi exposto, o que é bem diferente.

Você afirmou que o mundo era mais seguro sob o acordo nuclear de 2015 e que ele foi sabotado por Netanyahu e Trump, como se esse acordo fosse o auge da diplomacia global. Essa é uma leitura extremamente simplista de um cenário muito mais complexo.

O acordo tinha falhas estruturais gravíssimas:

-Cláusulas de expiração (sunset clauses): o JCPOA previa datas específicas a partir das quais o Irã estaria autorizado a expandir livremente seu programa nuclear. Ou seja, o acordo apenas postergava o problema, não o resolvia.

-Inspeções limitadas: a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) não tinha acesso irrestrito a todas as instalações militares do Irã. Qualquer país com um programa nuclear pacífico deveria aceitar inspeções totais e sem aviso prévio — algo que o Irã nunca aceitou.

-Atividades paralelas: mesmo durante a vigência do acordo, o Irã continuou desenvolvendo mísseis balísticos, cuja tecnologia é essencial para carregar ogivas nucleares, em flagrante violação da Resolução 2231 do Conselho de Segurança da ONU.

E aqui vale lembrar: antes mesmo da ação israelense, foi a própria AIEA, aquela entidade da ONU que você tanto respeita, quem deixou claro que o Irã havia ultrapassado a linha vermelha. O enriquecimento a 60% não tem qualquer justificativa civil plausível.

Sabotar um acordo falho, que não impedia o Irã de se tornar uma potência nuclear a médio prazo, não é um erro. É uma responsabilidade estratégica.

Você chama isso de “cumprimento do acordo”? Ou seria apenas mais uma farsa diplomática para ganhar tempo?

2. Sobre o enriquecimento de urânio

Você disse que o Irã enriquecia urânio a apenas 4% e mandava o excedente para a Rússia. Isso foi verdade apenas até certo ponto.

Sabe, Guga, a verdade incompleta é a forma mais sutil de manipulação.

Documentos capturados por Israel em 2018 — o arquivo nuclear iraniano — revelaram que o Irã mantinha planos secretos para desenvolver armas nucleares, mesmo após assinar o acordo. Ou seja, o JCPOA não interrompeu a intenção bélica do regime. Apenas a camuflou.

Até Israel dizer “chega”, o Irã enriquecia urânio a 60%, um nível perigosamente próximo ao necessário para uso militar (90%). Não existe justificativa civil para isso. A escalada foi feita pelo próprio Irã, como forma de chantagem internacional.

E você culpa Israel por se opor a esse cenário? Culpa o país mais ameaçado da região por não querer ser cúmplice de um acordo que apenas adiava o inevitável?

Isso não é análise geopolítica, Guga. É inversão moral.

3. Sobre a bomba atômica de Israel e o TNP

Você questiona por que Israel tem uma bomba atômica e não assina o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). A resposta é simples: porque o tratado falhou.

-O TNP é um tratado com falhas gravíssimas de aplicação. Diversos signatários, como Irã, Coreia do Norte e Líbia, violaram suas obrigações.

-A Coreia do Norte assinou, depois saiu e testou bombas nucleares.

-O Irã assinou e buscou armas nucleares secretamente.

Israel, por sua vez, nunca ameaçou destruir nenhum país. Já o Irã, por meio de seus líderes, proxies e representantes oficiais, repetidamente clama pela destruição de Israel e dos Estados Unidos, chamando-os de “câncer que deve ser eliminado”.

Israel não exporta tecnologia nuclear, não ameaça seus vizinhos com destruição total e age com dissuasão, não com agressão. A possível existência de armas nucleares israelenses tem servido como instrumento de estabilidade. Não de provocação.

Guga, você conhece muito bem a realidade geopolítica da região. Sabe que o país está cercado de regimes teocráticos e ditatoriais que sonham em destruí-lo.

Fingir que todos os lados são iguais é uma fraude intelectual. E uma equivalência moral inaceitável.

Ter dissuasão nuclear nesse contexto não é agressão. É sobrevivência.

4. Sobre “bombardear civis”

Aqui sua fala foi especialmente grave, desonesta e moralmente indefensável.

Dizer que Israel “prefere bombardear civis” a respeitar um acordo não é apenas calunioso. É uma forma perigosa de demonização de um povo inteiro.

Israel não mira civis. Seus alvos são bases militares, instalações nucleares clandestinas, engenheiros e comandantes diretamente envolvidos no programa bélico. Já o Irã financia grupos terroristas que atacam civis deliberadamente em ônibus, no meio da rua, hospitais, festas e kibutzim.

Essa é a diferença entre uma guerra de contenção e o terrorismo deliberado.

Mais grave ainda: você chancela, sem crítica, os números fornecidos pelo Hamas, um grupo terrorista que atua também como ministério da propaganda. Quantas reportagens suas têm como fonte “o Ministério da Saúde de Gaza”, controlado por um grupo que usa crianças como escudos humanos?

Sua narrativa tenta empurrar ao público a mentira de que Israel comete genocídio e promove limpeza étnica, enquanto o verdadeiro projeto de extermínio é o do Hamas e da República Islâmica do Irã.

5. O duplo padrão — e o risco real da sua retórica

Mas talvez o mais escandaloso seja o duplo padrão com que você trata a única democracia estável da região.

Você chama essa guerra de “a guerra do Netanyahu”, ignorando o fato de que 85% da população israelense, incluindo oposição, centro, esquerda, extrema-direita e extrema-esquerda, apoia essa posição.

A oposição foi inclusive à imprensa declarar apoio público. Sabe por quê?

Porque não é uma guerra de um homem, Guga. É uma guerra de um povo pela sua sobrevivência.

Por fim, lembramos que o debate público exige honestidade, responsabilidade e coragem moral.

Israel não busca guerra. Israel busca existir.

E, para regimes como o iraniano, infelizmente, isso já é provocação suficiente.

A sua fala não foi corajosa nem crítica.

Foi enviesada, perigosa e moralmente indefensável. Uma sequência de argumentos desmontáveis, uma retórica ideologizada e nociva, que ajuda a normalizar um regime que ameaça o mundo inteiro.

Quem relativiza o mal absoluto, Guga, perde autoridade para julgar o imperfeito.

Com firmeza, sem condescendência,

Hasbara Brasil & Juventude Judaica Organizada”

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Bruno Rigacci

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