Dois dias após anunciar pretensão de disputar o Senado, Carlos Bolsonaro é indiciado pela PF
A Polícia Federal indiciou o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) no inquérito que investiga o uso de uma estrutura clandestina de espionagem dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). O caso, que envolve a chamada “Abin paralela”, aponta o uso de sistemas de monitoramento para fins políticos e pessoais durante o governo federal.
O relatório final da PF foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), que agora analisará os elementos colhidos. Caberá à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se apresenta denúncia formal contra os investigados.
Espionagem ilegal e software de rastreamento
As investigações revelam que a operação teria começado quando Ramagem era diretor da Abin. De acordo com a PF, foi estruturado um esquema de monitoramento clandestino de autoridades públicas, jornalistas e adversários políticos do então presidente Jair Bolsonaro, sem qualquer autorização judicial.
Para isso, o grupo teria utilizado o software First Mile, capaz de rastrear, em tempo real, a localização de celulares por meio das redes móveis (2G, 3G e 4G). O sistema permite identificar a posição de qualquer aparelho a partir do número de telefone, um recurso reservado a operações de inteligência com autorização judicial — o que, segundo a PF, não ocorreu nesse caso.
Entre os nomes supostamente monitorados ilegalmente estão:
Alexandre de Moraes
Luís Roberto Barroso
Dias Toffoli
Luiz Fux, todos ministros do STF
Arthur Lira, ex-presidente da Câmara dos Deputados
Implicações políticas e reação
O indiciamento de Carlos Bolsonaro acontece dois dias após ele anunciar a intenção de concorrer ao Senado Federal por Santa Catarina, em 2026. O caso reacende a tensão entre o núcleo político da família Bolsonaro e o Judiciário, especialmente o STF.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) reagiu com veemência, classificando o processo como “ilegal” e exigindo sua anulação:
“Esse processo tem que ser imediatamente anulado”, afirmou.
Além disso, a Polícia Federal tenta intimar o pastor Silas Malafaia, aliado próximo da família Bolsonaro, para prestar depoimento no mesmo inquérito.
Próximos passos
Com o relatório da PF concluído, a decisão sobre a continuidade do processo criminal está agora nas mãos da Procuradoria-Geral da República. Se a PGR entender que há elementos suficientes, pode apresentar denúncia ao STF. Caso isso ocorra, os investigados se tornarão réus em uma ação penal por espionagem ilegal, abuso de autoridade e outros crimes correlatos.
O escândalo da “Abin paralela” se soma a outras investigações que envolvem o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu entorno, incluindo suspeitas de tentativa de golpe, falsificação de cartões de vacina e disseminação de fake news em massa.