O Algoz e o Prisioneiro: Quem é quem?
Na política brasileira recente, poucos embates se tornaram tão simbólicos quanto aquele travado entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. De um lado, um líder carismático, sem cargo oficial, mas com forte presença popular. Do outro, uma das figuras mais poderosas do Judiciário, com a caneta que define o destino de centenas de investigados.
O destino de ambos parece entrelaçado, mas em sentidos opostos. Bolsonaro, fora do poder, conserva um capital político que resiste à perda de mandato e à inelegibilidade. Moraes, dentro do STF, acumula autoridade e decisões que marcam uma era, mas paga um preço crescente em termos de imagem pública e aceitação popular.
O paradoxo do poder
Bolsonaro não ocupa cargo público, mas onde vai arrasta multidões. Ele não comanda formalmente nenhuma instituição, mas tem influência sobre milhões. Moraes, por outro lado, detém uma caneta que decide a liberdade e o futuro de seus opositores, mas vive sob escolta, acuado por ameaças e pressões constantes.
Enquanto Bolsonaro é visto por apoiadores como um símbolo da resistência ao “sistema”, Moraes se consolidou como o rosto da reação institucional aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e às campanhas de desinformação nas redes. Para seus críticos, o ministro representa o avanço de um poder que ultrapassa os limites da Constituição. Para seus defensores, ele é o muro de contenção contra a barbárie digital e o golpismo.
O STF e a batalha pela legitimidade
As decisões do Supremo, especialmente sob a relatoria de Moraes, têm provocado reações intensas. O apoio à Corte entre certos setores cresceu, mas também aumentou a desconfiança popular, alimentada por decisões que, para muitos, passam do limite entre julgar e legislar.
A frase dita por Barroso — “Perdeu, mané” — virou símbolo da escalada de tensão entre povo e toga. Não por acaso, foi essa expressão que uma manifestante gravou na estátua da Justiça, diante do STF, como forma de protesto. A resposta institucional veio em forma de penas duras, como no caso da cabeleireira condenada a 14 anos de prisão.
Símbolos e espectros
Hoje, Bolsonaro já não é apenas um político: tornou-se um símbolo para seus seguidores. Já Moraes, mesmo com seus poderes constitucionais, tornou-se para muitos um símbolo do que enxergam como autoritarismo togado. Ambos, em suas formas, representam forças que moldam o Brasil contemporâneo: a polarização, o conflito entre instituições e ruas, a crise de confiança nos pilares da República.
Se Bolsonaro vencerá novamente ou não, é incerto. Mas o que parece claro é que seu nome, sua figura e seu impacto político ainda ecoarão por muitos anos. Da mesma forma, Moraes, mesmo após sair da Corte, será lembrado como um protagonista de uma era marcada por embates judiciais e redefinições institucionais.
O tempo julgará o legado de ambos. Mas, até lá, o país seguirá vivendo entre aplausos e vaias, entre canetas e multidões.