Interpol que já disse “não” a Moraes, agora estranhamente acata pedido do ministro
A atuação da Interpol em pedidos de inclusão de brasileiros na lista vermelha de procurados internacionais voltou a ganhar destaque nesta semana após a notícia, divulgada pela Folha de S.Paulo, de que a entidade teria aceitado o pedido da Polícia Federal para incluir o nome da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no sistema internacional de alertas. A parlamentar, condenada pelo STF a dez anos de prisão por participação na invasão dos sistemas do CNJ ao lado do hacker Walter Delgatti, foi considerada foragida ao deixar o país antes da execução da pena.
Contudo, a possível inserção de seu nome na lista vermelha da Interpol gerou controvérsia. O jornalista Paulo Figueiredo, aliado político do ex-presidente Jair Bolsonaro, contestou a informação, afirmando que ainda não há confirmação oficial por parte da entidade internacional. Em declaração nas redes sociais, ele escreveu:
“Vejo a mídia noticiando que o nome da Carla Zambelli foi incluído na lista da Interpol… Mas não vejo a fonte. A fonte é o jornal. O que sei foi que ela entrou na Itália hoje sem problemas. Considerando o processo interno da Interpol, o mais provável é que o que tenha sido incluído seja o PEDIDO, mas em geral a análise dele ainda exige algum tempo.
Mas não, não é impossível que tenha sido incluído. Apenas improvável.”
A dúvida levantada por Figueiredo destaca uma lacuna frequente em comunicações sobre difusões vermelhas: a Interpol não publica automaticamente todos os nomes inseridos, especialmente quando há questões de segurança, sigilo ou disputas jurídicas em andamento. Assim, a existência de um pedido aceito nem sempre é visível publicamente, o que alimenta especulações e incertezas.
Contraste com pedidos anteriores
O suposto acolhimento do pedido contra Zambelli contrasta com rejeições anteriores da Interpol a solicitações envolvendo outros aliados de Bolsonaro — em especial os jornalistas Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, também alvos de decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Allan dos Santos
Exilado nos EUA desde 2020, Allan dos Santos teve o pedido de inclusão formalmente rejeitado em dezembro de 2022. A Interpol considerou que as acusações — que incluíam lavagem de dinheiro, organização criminosa e incitação ao crime — careciam de clareza. Em documento enviado à PF, a Secretaria-Geral da entidade afirmou:
“A descrição das atividades criminosas não é clara.”
Oswaldo Eustáquio
No caso de Eustáquio, a recusa foi fundamentada em outro ponto: o jornalista tinha um pedido de refúgio ou asilo internacional em andamento, o que, segundo o Artigo 3º da Constituição da Interpol, inviabiliza automaticamente a difusão vermelha por envolver potencial motivação política. A própria Justiça da Espanha recusou sua extradição em abril deste ano, sob o argumento de falta de garantias jurídicas e risco de perseguição política. A decisão foi comunicada oficialmente à Interpol.
Essa recusa levou Moraes a retaliar diplomaticamente: o ministro suspendeu a extradição de um cidadão búlgaro condenado na Espanha, citando falta de reciprocidade.
Caso Zambelli: exceção ou endurecimento?
A eventual aceitação do pedido contra Carla Zambelli sugere um possível endurecimento da cooperação internacional ou, segundo críticos, uma inconsistência nos critérios aplicados pela Interpol. O caso da deputada, embora envolva crimes cibernéticos graves, também está imerso em um cenário de elevada polarização política, o que levanta dúvidas sobre imparcialidade e uniformidade na atuação da organização.
Conclusão
Até o momento, não há confirmação pública oficial da Interpol sobre a inclusão de Zambelli na lista vermelha, o que reforça a tese de que o processo ainda pode estar em análise, ou que o alerta, se aprovado, esteja sob sigilo operacional. Enquanto isso, a presença da parlamentar na Itália, sem impedimentos relatados, contribui para o clima de incerteza.
A Interpol, por padrão, não comenta casos individuais nem confirma nomes não publicados oficialmente.