Interpol disse “não” a Moraes
Nos últimos anos, a Interpol rejeitou dois pedidos de inclusão na lista vermelha — o alerta de procurados internacionais — de nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. As negativas, dirigidas aos jornalistas Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, representaram reveses importantes para o ministro do STF Alexandre de Moraes, responsável pelas solicitações. Em contraste, nesta quinta-feira (5), a entidade teria aceitado o pedido de inserção da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) na mesma lista, após sua condenação por crimes cibernéticos.
Rejeições fundamentadas
No caso de Allan dos Santos, exilado nos Estados Unidos desde 2020, a Interpol solicitou informações complementares à Polícia Federal sobre as acusações que envolvem lavagem de dinheiro, organização criminosa e incitação ao crime. Em correspondência oficial, a Secretaria-Geral da Interpol considerou que a documentação era insuficiente:
“A descrição das atividades criminosas não é clara”, afirmou o órgão.
Em dezembro de 2022, a Interpol recusou formalmente o pedido de inclusão.
Já em relação a Oswaldo Eustáquio, que solicitou asilo político, o pedido esbarrou no artigo 3º da Constituição da Interpol, que proíbe ações de natureza política, religiosa ou racial. O jornalista é acusado de envolvimento nos atos golpistas de dezembro de 2022 em Brasília. Além disso, a Justiça da Espanha rejeitou sua extradição em abril de 2025, alegando falta de garantias jurídicas e risco de perseguição política, segundo o tribunal.
A resposta espanhola motivou uma reação direta de Moraes, que determinou a suspensão da extradição de um cidadão búlgaro condenado pela Justiça espanhola, sob o argumento de falta de reciprocidade.
Caso Carla Zambelli: inclusão aprovada
Em um movimento que contrasta com os casos anteriores, a Interpol teria aprovado nesta quinta-feira (5) a inclusão de Carla Zambelli na lista de procurados. A deputada federal foi condenada pelo STF a dez anos de prisão, acusada de ter participado da invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em conluio com o hacker Walter Delgatti Neto.
Zambelli, considerada foragida após deixar o país, teve seu nome incluído após a Polícia Federal montar um dossiê com detalhes da investigação, julgamento e condenação, que teria atendido aos critérios técnicos da organização internacional.
No entanto, a notícia gerou dúvidas. O jornalista Paulo Figueiredo, conhecido por suas posições alinhadas à direita, afirmou nas redes sociais que não há confirmação oficial da Interpol, levantando a possibilidade de que o que foi aceito tenha sido apenas o pedido de inclusão, e não ainda o alerta em si:
“O que sei foi que ela entrou na Itália hoje sem problemas. Considerando o processo interno da Interpol, o mais provável é que o que tenha sido incluído seja o PEDIDO (…). Mas não, não é impossível que tenha sido incluído. Apenas improvável.”
O que é a lista vermelha da Interpol?
A difusão vermelha da Interpol serve para alertar os 195 países-membros sobre indivíduos procurados, permitindo prisões internacionais com fins de extradição. No entanto, o processo de inclusão depende de critérios técnicos, jurídicos e políticos — principalmente quando há alegações de perseguição política, como nos casos recentes ligados ao bolsonarismo.
Contexto e repercussão
As decisões da Interpol revelam as dificuldades do Judiciário brasileiro em obter cooperação internacional em casos que envolvem personagens politicamente expostos. Ao mesmo tempo, evidenciam os critérios técnicos rigorosos da entidade para evitar o uso indevido da cooperação policial internacional com fins políticos.
A defesa de Carla Zambelli ainda não se pronunciou oficialmente sobre o possível alerta internacional. A Polícia Federal também não confirmou publicamente a inclusão, o que reforça as dúvidas levantadas por aliados da deputada.