Vaza a reação de ministros do STF ao descobrirem ligação de Bolsonaro a Mourão
A revelação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro telefonou ao senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) dias antes de seu depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) causou apreensão entre ministros da Corte e membros da Procuradoria-Geral da República (PGR). O episódio está relacionado ao inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado durante o governo Bolsonaro.
Segundo apuração do portal Metrópoles, o contato entre os dois ex-militares ocorreu pouco antes de Mourão ser ouvido como testemunha no STF. O senador confirmou a ligação e relatou que Bolsonaro pediu que ele reforçasse, durante o depoimento, que jamais ouviu do ex-presidente qualquer insinuação sobre ruptura institucional.
Nos bastidores, ministros do STF consideram que a iniciativa de Bolsonaro pode levantar suspeitas de tentativa de interferência ou até mesmo de obstrução de Justiça, dependendo do conteúdo e da intenção da conversa. A possibilidade de medidas judiciais mais duras, como pedido de prisão preventiva, não está descartada, caso seja constatada alguma tentativa de influenciar o depoimento.
Reação da PGR e próximos passos
A próxima movimentação formal cabe ao Ministério Público Federal, que pode solicitar novas diligências, a oitiva dos envolvidos ou outras medidas investigativas para esclarecer o contexto do telefonema. A PGR ainda não se pronunciou oficialmente.
Mourão, que foi vice-presidente de Bolsonaro entre 2019 e 2022, afirmou inicialmente que o ex-presidente o procurou para “reforçar pontos considerados relevantes pela defesa”. Em nova manifestação, após a repercussão do caso, o senador classificou a conversa como “genérica” e negou ter recebido instruções formais ou diretas.
Depoimento e contexto do inquérito
O depoimento de Hamilton Mourão foi prestado na última sexta-feira (23 de maio). Ele compareceu ao STF na condição de testemunha de defesa de Jair Bolsonaro e também foi arrolado por outros réus no mesmo processo, entre eles os generais Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto.
O inquérito em andamento no STF investiga a articulação de autoridades civis e militares em torno de um possível plano para contestar ou reverter o resultado das eleições de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Análise: tensão institucional e risco político
Especialistas ouvidos por veículos de imprensa destacam que, embora contatos entre réus e testemunhas não sejam, por si só, ilegais, qualquer tentativa de influenciar o conteúdo de um depoimento pode configurar obstrução de Justiça. A depender da avaliação da PGR, o episódio pode aprofundar o desgaste jurídico e político do ex-presidente, que já figura como investigado em diversos inquéritos no STF.