Paulo Gonet deixa escapar o “medo”
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, usou palavras contundentes ao justificar seu pedido de abertura de inquérito contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em razão da atuação do parlamentar nos Estados Unidos em favor de sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
No requerimento enviado ao STF, Gonet alertou para o potencial devastador das medidas articuladas por Eduardo, classificando-as como uma forma de “pena de morte civil internacional”.
“As medidas referidas nas manifestações do sr. Eduardo Bolsonaro, nos seus próprios dizeres, englobam cassação de visto de entrada nos EUA, bloqueio de bens e valores que estejam naquele país, bem como a proibição de estabelecer relações comerciais com qualquer pessoa física e jurídica de nacionalidade americana ou que tenha negócios nos Estados Unidos”, escreveu Gonet.
E completou:
“A excepcional gravidade das medidas por que o sr. Eduardo Bolsonaro se bate, enérgica e porfiadamente, junto ao alto escalão do governo do país setentrional […] corresponde à sua qualificação generalizadamente conhecida: trata-se de uma pena de morte civil internacional.”
A expressão usada por Gonet não passou despercebida. Parlamentares e analistas políticos viram na escolha das palavras um sinal do grau de preocupação que o chefe do Ministério Público Federal tem com as possíveis repercussões diplomáticas e institucionais da ofensiva internacional bolsonarista.
Pressões internas e resistência institucional
Nos bastidores de Brasília, há sinais de que Paulo Gonet estaria sob forte pressão. Segundo fontes próximas ao procurador, o inquérito contra Eduardo Bolsonaro não teria sido uma iniciativa espontânea, mas uma resposta obrigatória a uma conjuntura política em que recuar poderia significar enfraquecimento institucional diante do STF e do Palácio do Planalto.
Para observadores do cenário jurídico, o trecho do requerimento carrega um subtexto revelador: Gonet reconhece o caráter excepcional da situação e o risco de ruptura, mas evita confrontos diretos com a ala bolsonarista no Congresso. Ainda assim, a formalização do pedido — e, sobretudo, a linguagem usada — evidenciam um ponto de tensão crítica na relação entre os Poderes.
Eduardo Bolsonaro: ofensiva e reação
Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos, tem feito campanha aberta em audiências e reuniões com congressistas norte-americanos, buscando apoio a sanções contra autoridades brasileiras. Após a declaração do senador Marco Rubio sugerindo que tais sanções contra Alexandre de Moraes são possíveis e estão sendo consideradas, Eduardo intensificou sua retórica e passou a denunciar um “Estado de exceção” no Brasil.
A PGR, no entanto, vê nas ações do deputado não apenas retórica política, mas tentativa de intervenção estrangeira nos assuntos internos do Judiciário brasileiro — algo sem precedentes na história recente do país.