Rússia descarta oferta do papa Leão XIV de sediar negociações de cessar-fogo
A Rússia recusou oficialmente a proposta do papa Leão XIV de sediar, no Vaticano, a próxima rodada de negociações de cessar-fogo com a Ucrânia. Em pronunciamento realizado nesta sexta-feira (23), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, considerou “irrealista” a realização do encontro em território católico, destacando a incompatibilidade simbólica com a tradição cristã ortodoxa dos países envolvidos.
“Imagine o Vaticano como local para negociações. Eu diria que é um pouco deselegante, quando os países ortodoxos estarão discutindo questões relacionadas à eliminação das causas profundas [do conflito ucraniano] em solo católico”, afirmou Lavrov à agência estatal russa Tass.
Segundo o chanceler russo, uma das raízes do conflito, na visão de Moscou, é o suposto esforço do governo ucraniano para “erradicar a Igreja Ortodoxa Ucraniana”, o que torna, segundo ele, o Vaticano um local inadequado para debater temas tão sensíveis entre nações de maioria ortodoxa.
A declaração foi reforçada por nota do Kremlin, que reiterou que “ainda não há decisão ou acordo sobre o próximo local de negociação” e que essa escolha deve ser feita “com o consentimento de ambas as partes”.
Progresso condicionado à troca de prisioneiros
Apesar da indefinição quanto ao local, Lavrov sinalizou disposição russa para avançar no processo de paz. Ele afirmou que Moscou apresentará uma proposta preliminar de acordo à Ucrânia assim que for concluída a troca de 1.000 prisioneiros de guerra — ação previamente acertada na última rodada de negociações, realizada na Turquia.
“Assim que a troca de prisioneiros de guerra terminar, estaremos prontos para entregar ao lado ucraniano um rascunho deste documento, que o lado russo está finalizando”, disse.
Segundo Lavrov, o documento preliminar vai conter os termos russos para o cessar-fogo e os princípios para alcançar uma “paz duradoura na região”. Ele também afirmou que ambas as delegações estão comprometidas com a formulação de propostas que visem encerrar a guerra, em curso desde 2022.
Impasses diplomáticos e simbolismos religiosos
A recusa ao Vaticano revela não apenas um impasse logístico, mas também simbólico e religioso. A sugestão da Santa Sé era vista por analistas como um gesto de neutralidade e desejo de reconciliação, mas foi interpretada por Moscou como um cenário potencialmente parcial.
Nos bastidores, diplomatas alertam que a dificuldade em definir uma sede neutra e aceita por ambas as partes pode atrasar o cronograma das negociações. Com os dois lados ainda longe de um consenso definitivo sobre as condições de paz, o ambiente diplomático segue marcado por cautela e tensões.