Narrativa da mídia contra Bolsonaro é desmentida por General diante de Moraes
O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército Brasileiro, negou de forma categórica qualquer envolvimento em ameaças ou articulações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro durante o conturbado período pós-eleitoral de 2022. Em depoimento prestado às autoridades, o general refutou os rumores de que teria ameaçado prender Bolsonaro caso ele insistisse em apoiar uma tentativa de golpe de Estado.
As especulações giravam em torno de uma suposta reunião no Palácio da Alvorada, na qual militares de alta patente teriam discutido abertamente planos para reverter o resultado das eleições presidenciais que deram vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em meio às tensões, Freire Gomes teria, segundo alguns relatos da imprensa, confrontado Bolsonaro e imposto limites, chegando até mesmo a ameaçar detê-lo. O general nega categoricamente.
“Alguns veículos relataram que eu teria dado voz de prisão ao ex-presidente, mas isso não aconteceu”, declarou o ex-comandante do Exército.
Mal-entendidos e clima de tensão
Freire Gomes não descartou que suas palavras ou posturas durante reuniões de alto nível possam ter sido mal interpretadas. Ele reconheceu que o ambiente era altamente sensível e que reações poderiam ter sido distorcidas diante da tensão institucional.
“É possível que outros participantes tenham compreendido de forma equivocada o que foi dito. Em momentos tão delicados, é comum que gestos e palavras sejam interpretados fora de contexto.”
Apesar das pressões, o general afirmou que não houve qualquer conduta por parte do Exército que indicasse disposição para ações fora dos marcos da legalidade democrática.
Compromisso institucional das Forças Armadas
Em seu depoimento, Freire Gomes fez questão de destacar que o Exército agiu com “prudência e responsabilidade” e que sua atuação, enquanto comandante da Força, sempre teve como objetivo a preservação da ordem constitucional.
“As Forças Armadas mantiveram sua neutralidade política. Não houve articulação militar para interferência nos resultados eleitorais ou para qualquer ruptura institucional”, frisou.
A posição de Freire Gomes contrasta com suspeitas que pairam sobre setores militares e civis que, segundo as investigações em curso, teriam discutido a implementação de medidas golpistas para impedir a posse de Lula.
Defesa de Bolsonaro apoia versão do general
A defesa de Jair Bolsonaro utilizou o depoimento de Freire Gomes para reforçar a tese de que não houve tentativa real de golpe de Estado e tampouco participação do ex-presidente em planos golpistas.
Segundo seus advogados, a fala do ex-comandante do Exército desmente a narrativa de que Bolsonaro teria sido confrontado por militares por insistir em uma ruptura institucional. “A declaração do general confirma o que já vínhamos dizendo: não houve ameaça, ordem de prisão ou movimento golpista”, disseram em nota.
Investigações continuam
Apesar das negativas do general, as investigações da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República continuam em andamento. O depoimento de Freire Gomes será analisado em conjunto com outros elementos: áudios, mensagens, documentos e os depoimentos de outras figuras do alto escalão civil e militar do governo Bolsonaro.
Áudios recentes do policial federal Wladimir Soares, que circulam sob investigação, mencionam inclusive que ministros do Supremo Tribunal Federal seriam alvos de prisão, e que Alexandre de Moraes “deveria ter tido a cabeça cortada” por ter se oposto à nomeação de Alexandre Ramagem para a PF. Embora esse tipo de retórica extrema seja vista com preocupação, até o momento, não foi formalmente vinculada a ações diretas por parte das Forças Armadas.
Clima ainda tenso entre instituições
O período pós-eleitoral de 2022 permanece sendo um dos mais conturbados da história política recente do Brasil. O comportamento dos comandantes militares e sua relação com o núcleo duro do governo Bolsonaro está no centro das investigações.
Freire Gomes, considerado por muitos como um dos mais moderados entre os altos comandos militares, tem seu depoimento visto como peça-chave para entender os limites reais da participação militar no que poderia ter sido uma grave ruptura democrática.
Ainda assim, o clima é de cautela. As autoridades seguem colhendo evidências e depoimentos com o objetivo de determinar até onde foram as articulações golpistas e quem, de fato, participou ativamente desses movimentos.
O desfecho das investigações poderá ter implicações profundas sobre figuras centrais do governo passado, e o depoimento de Freire Gomes, mesmo negando qualquer ação fora da legalidade, não encerra as suspeitas — mas lança uma nova luz sobre os bastidores do poder em um dos momentos mais sensíveis da história republicana brasileira.