GM para de exportar veículos para a China devido a preocupações com tarifas
A General Motors (GM) anunciou a suspensão das exportações de veículos dos Estados Unidos para a China, encerrando uma operação de nicho conduzida por sua divisão de importação premium, Durant Guild. A decisão, que afeta uma fatia mínima do mercado – menos de 0,1% das vendas da GM no país asiático – ocorre em meio a um cenário de crescentes tensões comerciais entre Washington e Pequim.
Segundo a agência Reuters, a medida reflete os efeitos diretos das tarifas chinesas sobre veículos americanos, que chegaram a até 150% durante o auge da guerra comercial iniciada no primeiro semestre de 2025. A GM segue, assim, os passos da Ford Motor, que em abril também suspendeu exportações para a China de modelos emblemáticos como Mustang, Bronco e F-150 Raptor.
Durant Guild: luxo, experiência e alta tarifa
Lançada em 2022, a Durant Guild surgiu como uma plataforma de estilo de vida e importação premium voltada ao consumidor de alto poder aquisitivo na China. Nomeada em homenagem ao fundador da GM, William Durant, a divisão foi idealizada para promover veículos icônicos como o Chevrolet Tahoe e o GMC Yukon Denali, por meio de uma abordagem inspirada na Tesla, com eventos exclusivos, vendas diretas e centros de experiência em grandes cidades.
A estratégia, no entanto, colidiu com o endurecimento das políticas tarifárias entre os dois países. Em maio de 2025, a GM anunciou uma reestruturação da Durant Guild, citando “mudanças significativas nas condições econômicas”, incluindo a imposição de tarifas superiores a 100%. A reestruturação impactou aproximadamente 200 funcionários e levou ao fim da expansão planejada de centros de experiência na China.
Apesar disso, a empresa prometeu entregar os pedidos já realizados e manter o suporte pós-venda aos consumidores chineses que adquiriram veículos por meio da plataforma.
Ford também recua
A GM não está sozinha nesse movimento. A Ford suspendeu recentemente o envio de veículos de alto valor, incluindo Lincoln Navigator, como resposta direta às tarifas chinesas, que tornaram tais modelos praticamente inviáveis do ponto de vista comercial. Em 2024, a empresa exportou 5.500 veículos para a China, bem abaixo dos volumes anteriores, que superavam 20 mil unidades anuais.
Enquanto veículos completos estão fora da jogada, a Ford continuará exportando motores e transmissões, e mantém a produção local do Lincoln Nautilus. Ainda assim, a queda nos lucros operacionais da Ford na China – 40% em três anos – evidencia o impacto do conflito tarifário no setor automotivo.
Guerra tarifária e incertezas comerciais
As decisões das montadoras refletem o agravamento da guerra comercial EUA-China, que atingiu um ponto crítico em abril de 2025, quando o governo Trump elevou tarifas sobre produtos chineses para até 145%. A China retaliou com taxas similares sobre veículos dos EUA, ameaçando, segundo autoridades chinesas, “lutar até o fim”, mas também mantendo a porta aberta para o diálogo.
Em maio, as duas potências fecharam um acordo temporário que reduziu as tarifas: 30% nos EUA e 10% na China por um período de 90 dias. Contudo, tarifas de 25% sobre veículos e peças permanecem, mantendo a instabilidade nas cadeias globais de suprimentos.
Perspectivas para o setor
Analistas estimam que o impacto financeiro da guerra tarifária pode atingir US$ 108 bilhões até o final de 2025, levando montadoras a recalibrar preços e rever estratégias globais, não apenas no mercado chinês, mas também no norte-americano. O reposicionamento de marcas premium e o fortalecimento da produção local na Ásia podem ganhar força como alternativas viáveis.
A saída da Durant Guild do mercado de exportação marca, simbolicamente, o fim de uma tentativa da GM de conquistar consumidores chineses com o charme e a robustez de seus veículos americanos, reforçando um cenário onde o nacionalismo econômico e as barreiras comerciais passam a ditar o futuro da indústria automotiva global.