Em meio a rombo bilionário, presidente dos Correios aumenta o próprio salário
Enquanto a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos acumula prejuízo bilionário em 2024, a alta cúpula da estatal recebeu aumentos salariais acima da inflação nos últimos dois anos. Segundo revelou o portal Metrópoles nesta quinta-feira (15), o presidente da empresa, Fabiano Silva dos Santos, aprovado para o cargo em 2023, já teve reajuste de 14% em sua remuneração — passando de R$ 46,7 mil, em março de 2023, para R$ 53,3 mil, em abril deste ano.
No mesmo período, os funcionários dos Correios receberam apenas 4,62% de reajuste, equivalente à inflação oficial medida pelo IPCA. O contraste gerou críticas, especialmente em um contexto financeiro preocupante: o déficit da empresa saltou de R$ 597 milhões, em 2023, para R$ 2,6 bilhões em 2024 — o pior resultado desde 2016.
Além do salário base, os benefícios da presidência também foram ampliados:
Auxílio-moradia: de R$ 4,3 mil para R$ 4,7 mil
Auxílio-alimentação: de R$ 699 para R$ 1.036
Previdência complementar: de R$ 7,6 mil para R$ 7,9 mil
O plano de saúde, por sua vez, manteve-se em R$ 749 mensais. A remuneração total ainda pode incluir gratificações e honorários pela participação em conselhos.
Os demais diretores da empresa também foram beneficiados com aumentos, passando de R$ 40,6 mil para R$ 46,3 mil em média, além dos mesmos benefícios.
Justificativas da empresa
Em nota, os Correios afirmaram que os reajustes seguiram autorizações do governo federal e decisões da Assembleia-Geral Ordinária. O aumento de 9% em 2023 teria sido equivalente ao concedido aos servidores públicos federais naquele ano, e os 4,62% de 2024 corresponderiam à variação da inflação no período.
A empresa acrescentou que o Conselho de Administração decidiu não conceder reajuste aos dirigentes em 2025 e alegou uma redução de 2,2% nos gastos com remuneração da diretoria entre 2022 e 2023, atribuída à vacância de cargos e renúncia voluntária de alguns benefícios.
Déficit bilionário e medidas internas
A gestão de Fabiano Santos, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ligado ao grupo Prerrogativas — que reúne juristas críticos da Operação Lava Jato — atribuiu o déficit recorde à chamada “taxa das blusinhas”, encargo aplicado a importações de baixo valor, especialmente do varejo internacional. Segundo os Correios, a medida favoreceu grandes marketplaces, mas afetou negativamente o volume de encomendas da estatal.
Para conter a crise, a empresa anunciou sete medidas de contenção, entre elas:
Suspensão de férias
Retorno ao trabalho presencial a partir de junho
Reavaliação de contratos e despesas operacionais
Fabiano assumiu a presidência dos Correios em 2023 com a missão de impedir a privatização da estatal, tendo retirado a empresa do Programa Nacional de Desestatização ainda no primeiro ano de gestão. Seu mandato vai até agosto de 2025.
O contraste entre os aumentos salariais no topo da estatal e a crise financeira enfrentada pela empresa reacendeu debates sobre a governança e a eficiência administrativa dos Correios em um momento de forte pressão fiscal e de transformações no setor logístico nacional.