Governo Lula prepara dossiê que supostamente liga Bolsonaro à fraude do INSS
A oposição decidiu adiar para a próxima semana o protocolo de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) destinada a investigar as fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A medida visa ganhar tempo para ampliar o número de assinaturas e garantir uma base de apoio mais sólida para a instalação da comissão. Nos bastidores, há o receio de que o governo Lula consiga desviar o foco da investigação e transferir a responsabilidade pelos escândalos à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Segundo fontes ligadas a técnicos de lideranças governistas, o Palácio do Planalto está preparando um dossiê que busca vincular membros da Secretaria de Previdência Social e do INSS, durante o governo Bolsonaro, à criação de entidades hoje investigadas pela Polícia Federal. O material incluiria documentos e organogramas que relacionam servidores da gestão anterior à facilitação de acordos com associações suspeitas.
Um dos casos destacados no levantamento é o da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec). Em 2021, a entidade contava com apenas três filiados quando assinou um acordo de cooperação com o INSS. Pouco tempo depois, o número de associados saltou para mais de 600 mil, fazendo com que o faturamento mensal da Ambec disparasse de R$ 135 para cerca de R$ 30 milhões. A associação nega qualquer prática irregular, mas é uma das que constam nas investigações em curso.
De acordo com o dossiê, o governo Bolsonaro teria autorizado esses acordos sem validar os descontos aplicados nas aposentadorias, transferindo os procedimentos de checagem para 2023 — já sob a nova administração.
A movimentação do governo Lula é vista como uma estratégia de antecipação política. Caso a CPMI seja de fato instaurada, o Planalto pretende utilizar o material como instrumento de defesa, tentando mudar o foco das acusações que atualmente recaem sobre o INSS na gestão atual.
Enquanto isso, a oposição trabalha para ampliar o apoio à CPMI, buscando evitar que o governo consiga neutralizar o impacto inicial das denúncias. A preocupação principal é que, com a apresentação do dossiê, o governo Lula consiga transformar uma crise administrativa em um embate político com a antiga gestão, dificultando o avanço das investigações propostas.