Moraes “surta” diante da coragem de advogada e vai ao embate
A sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (6) foi marcada por tensão e troca de farpas, em meio ao julgamento de mais um grupo de investigados por envolvimento na tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. O ministro Alexandre de Moraes reagiu com ironia e irritação a mais um pedido de sua suspeição, protocolado durante a sessão pela defesa de um dos réus.
Durante sua sustentação oral, a advogada Érica de Oliveira Hartmann, que representa o major da reserva Ailton Barros, questionou a imparcialidade de Moraes, alegando que o ministro já teria demonstrado pré-julgamento em suas falas públicas e decisões anteriores relacionadas ao caso. A reação veio em seguida, com um tom que alternou sarcasmo e indignação.
“Fico extremamente magoado. Quando surge o nome do ministro Fux, ninguém pede suspeição. Quando aparece o meu nome, são 868 pedidos. Suspeito é quem está pedindo a minha suspeição. É impressionante”, disparou Moraes, provocando reações discretas no plenário.
Ministro em foco
A atuação de Alexandre de Moraes à frente dos inquéritos relacionados aos ataques à democracia o colocou no centro da polarização política no Brasil. Seus críticos, majoritariamente ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o acusam de extrapolar os limites constitucionais de sua função e agir com motivações políticas. Seus defensores, por outro lado, destacam sua firmeza na defesa do Estado Democrático de Direito e o combate à desinformação e às tentativas de ruptura institucional.
Com mais de 800 pedidos de suspeição acumulados em seu nome, Moraes tem sido alvo constante da estratégia jurídica de defesas que buscam descredibilizar os processos conduzidos por ele.
Julga-se o “Núcleo 4”
O julgamento desta terça-feira trata dos réus classificados como parte do “núcleo 4” pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Entre eles estão civis e militares da reserva, como Ailton Barros, acusados de participar de articulações que buscavam reverter o resultado das eleições de 2022 e manter Bolsonaro no poder. As provas incluem áudios, mensagens e vídeos apontando envolvimento em tramas antidemocráticas.
Clima político no STF
O episódio evidenciou o clima delicado no STF, que segue enfrentando pressões externas e acusações de parcialidade. Ao mesmo tempo, a Corte mantém a linha de responsabilização de envolvidos em ações contra a democracia. Nos bastidores, ministros apontam que os pedidos de suspeição têm sido usados como ferramenta política e tática de obstrução processual.
Polarização e disputa de narrativas
A repercussão nas redes foi imediata. Parlamentares aliados de Bolsonaro saíram em defesa da advogada e reforçaram críticas ao que classificam como “perseguição judicial”. Já figuras próximas ao governo e juristas destacaram que o pedido de suspeição feito em plenário foi inadequado e visto como tentativa de tumultuar o julgamento.
Enquanto isso, o STF se mantém como um dos principais campos de disputa simbólica e política no país, enfrentando o desafio de preservar sua legitimidade num ambiente onde as instituições ainda lutam para se consolidar diante de uma democracia tensionada.