Ida de Lula à Rússia provoca desavenças entre Brasil e Ucrânia
A confirmação da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Rússia para as comemorações do 80º aniversário do Dia da Vitória, em 9 de maio, aprofundou a tensão nas relações entre o Brasil e a Ucrânia. O gesto é interpretado por autoridades ucranianas como apoio indireto ao governo de Vladimir Putin, em meio à guerra no Leste Europeu.
A insatisfação de Kiev aumentou após o presidente brasileiro ignorar convites para visitar a Ucrânia, inclusive um mais recente, feito no último dia 28 de abril pelo embaixador ucraniano no Brasil, Andrii Melnyk. Fontes diplomáticas brasileiras afirmaram que aguardam um convite formal para considerar a viagem, o que gerou irritação na diplomacia ucraniana.
“O convite oficial por escrito de Zelensky está na mesa de Lula há um ano e oito meses. Não enviaremos novos convites toda semana. Temos outras prioridades, como defender nosso país da invasão russa”, afirmou um diplomata ucraniano ao portal Metrópoles, sob condição de anonimato.
Cartas ignoradas e recusa de telefonemas
De acordo com o Metrópoles, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky enviou seis cartas entre 2023 e 2024 ao presidente Lula. Os documentos incluíam convites para cúpulas internacionais, propostas de reuniões bilaterais e até uma mensagem de aniversário, em 27 de outubro de 2023. Segundo Kiev, nenhuma das correspondências foi respondida por Brasília.
Ainda segundo fontes, tentativas brasileiras de intermediar um telefonema entre Lula e Zelensky entre março e abril deste ano também foram rejeitadas pelo governo ucraniano, que viu nas ações um “teatro de cinismo”, interpretando a aproximação como uma tentativa de “maquiar” a visita do petista à Moscou.
“Teatro de cinismo” e críticas à postura brasileira
As críticas não se restringiram à falta de resposta. Em entrevista ao Metrópoles, um diplomata ucraniano classificou a viagem de Lula como uma “vergonha” para o Brasil, dizendo que o presidente irá “saudar os soldados russos que cometem crimes de guerra” e que “Orwell se reviraria no túmulo” ao ver o brasileiro sendo chamado de “mensageiro da paz”.
Em defesa da postura brasileira, o assessor especial para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, declarou que Lula levará uma mensagem de paz à Rússia, reforçando a posição de neutralidade e disposição para mediar o conflito. No entanto, o plano de paz proposto por Brasil e China, com apoio do grupo “Amigos da Paz”, já foi rejeitado por Zelensky em 2024, sob a alegação de que havia sido “negociado previamente com Moscou”.
Crise diplomática em expansão
A ida de Lula à Rússia, ainda que com pretensões diplomáticas, gerou repercussão negativa entre aliados ocidentais da Ucrânia, especialmente pela ausência de sinalizações claras de reciprocidade com Kiev. Apesar disso, o Planalto mantém a agenda e sustenta que a visita não implica apoio a qualquer dos lados, mas sim à busca por uma saída negociada para o conflito.
A embaixada do Brasil em Kiev, procurada pelo Metrópoles, não respondeu às críticas até o momento. O espaço permanece aberto.