Moraes recua e revoga sua própria decisão em caso envolvendo conflito com a Espanha
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, revogou nesta quarta-feira (23) a prisão domiciliar do cidadão búlgaro Vasil Georgiev Vasilev, que é alvo de um pedido de extradição feito pela Espanha. A decisão marca uma mudança de postura do próprio magistrado, que anteriormente havia concedido o benefício com base em prerrogativas que agora se mostram fragilizadas.
Segundo Moraes, Vasilev não apresentou comprovação de residência fixa no Brasil, condição essencial para a concessão da prisão domiciliar. Com isso, o ministro determinou que o estrangeiro permaneça detido na Unidade Prisional Ricardo Brandão, em Ponta Porã (MS), cidade localizada na fronteira com o Paraguai.
“Considerando a inexistência de endereço fixo no Brasil que possibilite a prisão domiciliar, mantenho a prisão de Vasil Georgiev Vasilev […] até a chegada das informações solicitadas ao governo da Espanha”, escreveu Moraes em sua nova decisão.
Decisão anterior teria sido motivada por impasse diplomático
Fontes jurídicas sugerem que a concessão inicial da prisão domiciliar a Vasilev pode ter sido uma reação à recusa da Espanha em extraditar o jornalista brasileiro Oswaldo Eustáquio, em um episódio recente. A suposta retaliação simbólica teria dado espaço a uma postura mais flexível por parte de Moraes — uma hipótese que, no entanto, perde força diante da ausência de critérios legais objetivos para manter o benefício.
Com a reavaliação do caso, o ministro sinalizou que a legalidade prevalece sobre possíveis desconfortos diplomáticos. O processo de extradição continua em curso, e as autoridades brasileiras aguardam documentos adicionais do governo espanhol para definir os próximos passos.
Perfil de Vasilev e contexto internacional
Natural da Bulgária, país membro da União Europeia, Vasil Vasilev é acusado de crimes ainda não detalhados publicamente, supostamente cometidos em território europeu. Sua presença no Brasil levanta preocupações sobre falhas em controles migratórios e possíveis rotas internacionais de fuga.
A detenção de Vasilev em uma cidade de fronteira como Ponta Porã foi considerada estratégica, uma vez que facilita o monitoramento em casos que envolvem estrangeiros e potenciais tentativas de evasão.
Especialistas veem “correção de rumo” e reafirmação da legalidade
A revogação da prisão domiciliar repercutiu no meio jurídico, sendo vista por muitos como uma “correção de curso” diante de um quadro que inicialmente poderia ter dado margem a interpretações políticas. Especialistas em Direito Internacional afirmam que, embora decisões judiciais eventualmente dialoguem com o cenário diplomático, elas não podem se afastar dos critérios técnicos e legais.
“Essa mudança reforça o princípio da legalidade e a independência do Judiciário, mesmo diante de pressões ou frustrações nas relações exteriores”, avaliou um jurista ouvido sob condição de anonimato.
Conclusão
O caso de Vasil Vasilev evidencia os desafios enfrentados pelo Judiciário brasileiro em meio a processos de extradição internacional, especialmente quando há tensão diplomática envolvida. A decisão de Alexandre de Moraes deixa claro que, apesar de eventuais gestos políticos, o STF se orienta por fundamentos legais e constitucionais.
Enquanto aguarda a documentação da Espanha, Vasilev seguirá preso em Ponta Porã. O desfecho do processo dependerá do andamento da cooperação internacional e da análise final do Supremo Tribunal Federal.