Esquerdista condenada por corrupção pede asilo ao Brasil e Lula concede

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de conceder asilo político à ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia, condenada por lavagem de dinheiro no escândalo envolvendo a construtora Odebrecht, gerou forte repercussão no cenário político latino-americano e abriu caminho para um possível impasse diplomático entre Brasil e Peru.

Heredia, esposa do ex-presidente Ollanta Humala, recebeu sentença de 15 anos de prisão por envolvimento em um dos maiores esquemas de corrupção da América Latina. A condenação foi divulgada recentemente, e logo após a decisão judicial, Heredia se refugiou na Embaixada do Brasil em Lima, onde protocolou formalmente o pedido de asilo.

O ex-presidente Humala, também condenado a 15 anos, optou por cumprir a pena. Heredia, por outro lado, alega perseguição política e irregularidades no processo judicial. Sua defesa argumenta que parte das provas utilizadas no julgamento foram anuladas pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro, o que reforçaria a tese de uso político do Judiciário peruano.

Lula autoriza asilo com base em princípios humanitários

A concessão do asilo foi autorizada diretamente por Lula, com base em princípios de solidariedade internacional e proteção aos direitos humanos. O presidente brasileiro tem histórico de críticas à “judicialização da política” na América Latina e, durante seus mandatos, buscou fortalecer relações com lideranças de esquerda na região.

A decisão, no entanto, reacendeu críticas de opositores e especialistas em direito internacional, que apontam para um possível uso seletivo de critérios diplomáticos, além de levantar questionamentos sobre o respeito à soberania e às decisões judiciais de outros países.

“Essa atitude passa um sinal de interferência e desrespeito ao sistema judicial peruano, que tem sido elogiado justamente por sua firmeza contra a corrupção. É um precedente perigoso”, avaliou um diplomata brasileiro sob condição de anonimato.

Críticas da oposição e comparação com casos no Brasil

No Congresso Nacional, parlamentares da oposição reagiram duramente. O deputado federal Marcel van Hattem (NOVO-RS) classificou a decisão como “proteção descarada a aliados ideológicos envolvidos em escândalos de corrupção” e acusou o governo de incoerência ao defender moralização política internamente, mas acolher foragidos de outros países.

Nas redes sociais, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro compararam o caso de Heredia à situação de perseguição judicial alegada por figuras da direita brasileira. “Se fosse alguém do nosso lado, já estaria preso ou extraditado”, comentou um influenciador político.

Salvo-conduto pode virar impasse diplomático

Apesar da decisão brasileira, Heredia ainda depende da emissão de um salvo-conduto por parte do governo do Peru para deixar o país em liberdade. Caso as autoridades peruanas neguem o documento — como já ocorreu em outros casos —, o Brasil se verá diante de um impasse diplomático.

O Itamaraty evita declarações públicas até o momento, mas fontes da diplomacia brasileira reconhecem que o gesto pode azedar as relações bilaterais com Lima.

Corrupção e justiça: o pano de fundo latino-americano

O caso Heredia-Humala está inserido em um contexto maior: o impacto dos escândalos envolvendo a Odebrecht em vários países da América Latina. No Peru, quatro ex-presidentes já enfrentaram processos e condenações, e o sistema de Justiça tem sido elogiado internacionalmente por sua atuação independente.

Especialistas destacam que, diferentemente do Brasil — onde condenações da Operação Lava Jato foram posteriormente revertidas —, o Peru manteve o curso das investigações e punições.

Expectativa e tensão

Enquanto aguarda a resposta do governo peruano, Nadine Heredia permanece na Embaixada do Brasil em Lima. A expectativa é que o desfecho ocorra nos próximos dias. Caso o salvo-conduto seja negado, o Brasil poderá manter Heredia como protegida diplomática, agravando o desconforto com o país vizinho.

Mais do que um caso isolado, a concessão de asilo à ex-primeira-dama se torna mais um episódio em que as fronteiras entre política, diplomacia e justiça se confundem no cenário latino-americano, onde os ventos ideológicos ainda sopram com força e repercussões imprevisíveis.

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Bruno Rigacci

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