Glauber Braga segue no chão da Câmara e diz ter perdido 2 kg

O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) está há mais de três dias em greve de fome e dormindo no chão do plenário 5 da Câmara dos Deputados, em Brasília, como forma de protesto contra o processo de cassação de seu mandato, aprovado pelo Conselho de Ética na última quarta-feira (9). O parlamentar afirma que não deixará o local até o fim da tramitação do processo e acusa o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de estar por trás de uma articulação política para retirá-lo do cargo.

A ação de Glauber acontece em um momento de forte tensão política nos bastidores do Congresso, com denúncias, acusações de uso abusivo do chamado “orçamento secreto” e disputas acirradas entre a base governista e a oposição.

“Não vão comprar a minha cabeça”, diz deputado

Desde que iniciou o protesto, Glauber Braga afirma ter perdido dois quilos e relata estar sendo monitorado por uma equipe médica, que permitiu o consumo de soro fisiológico e autorizou exames de sangue e urina para monitorar sua saúde. Segundo sua assessoria, os exames não indicaram problemas graves até o momento.

“Arthur Lira tem muito poder e grana, mas ele não pode tudo. O orçamento secreto não pode comprar a minha cabeça!”, escreveu Glauber em suas redes sociais, acusando o presidente da Casa de orquestrar sua cassação.

No plenário onde permanece isolado, Glauber dorme sobre uma colchonete no chão e segue fazendo publicações em suas redes, reforçando o protesto como um “grito de denúncia contra a perseguição política”.

Entenda o caso

O processo contra Glauber Braga foi instaurado após um episódio ocorrido em 16 de abril de 2024, quando o parlamentar expulsou aos chutes o influenciador Gabriel Costenaro, do Movimento Brasil Livre (MBL), das dependências da Câmara. Costenaro teria feito insinuações ofensivas sobre a ex-prefeita de Nova Friburgo, Saudade Braga, mãe do deputado, que estava gravemente doente na época e faleceu poucos dias depois.

O Conselho de Ética considerou a atitude de Glauber como quebra de decoro parlamentar, aprovando por maioria de votos a recomendação de cassação de seu mandato.

Glauber, por sua vez, sustenta que reagiu a um ataque pessoal e que a condução do processo foi “viciada e politicamente manipulada”. A decisão final sobre a cassação caberá ao plenário da Câmara, que deverá votar em sessão futura ainda sem data marcada.

Clima de pressão e mobilização nas redes

A greve de fome de Glauber Braga repercutiu fortemente nas redes sociais. Personalidades políticas e simpatizantes do PSOL lançaram campanhas com as hashtags #ForçaGlauber e #NãoÀCassação, exigindo o arquivamento do processo e denunciando perseguição política.

Parlamentares de oposição também se manifestaram, apontando que o processo pode abrir um precedente perigoso sobre a criminalização de respostas emocionais a provocações dentro do Congresso.

“Se um deputado não pode reagir a uma ofensa contra a própria mãe, o que mais ele pode ou não pode fazer?”, comentou a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) em seu perfil.

Arthur Lira no centro das críticas

Arthur Lira, presidente da Câmara e um dos políticos mais influentes da atual legislatura, é o alvo direto das denúncias de Glauber. O psolista afirma que sua cassação é uma retaliação por ter denunciado repetidas vezes o uso do orçamento secreto, mecanismo amplamente criticado por falta de transparência e distribuição desigual de verbas parlamentares.

Segundo Glauber, sua atuação contra os “acordões de bastidores” incomodou setores poderosos da Câmara, que agora estariam agindo para silenciá-lo politicamente.

Lira, por sua vez, ainda não se manifestou oficialmente sobre as declarações de Glauber nem sobre a greve de fome.

Repercussões políticas

A permanência de Glauber Braga no plenário e sua decisão de fazer greve de fome colocam a Câmara em uma situação desconfortável, dividindo opiniões entre os que veem o ato como legítimo e os que consideram a atitude um espetáculo político.

Além disso, o caso traz à tona debates sobre:

• Liberdade de expressão parlamentar;

• Limites da imunidade legislativa;

• Violência simbólica no espaço político;

• Uso político das ferramentas regimentais da Câmara.

Conclusão

A crise envolvendo Glauber Braga é mais um capítulo da intensa polarização política no Brasil, que se reflete cada vez mais nos corredores do Congresso Nacional. Se por um lado o processo de cassação segue seu rito, por outro, o gesto radical do deputado — greve de fome em pleno plenário — levanta questionamentos importantes sobre os limites entre justiça, política e vingança institucional.

A decisão final caberá aos demais deputados federais, mas a pressão pública e a mobilização política já indicam que o caso terá desdobramentos além da simples cassação ou absolvição. Glauber aposta no clamor popular para manter seu mandato. Agora, os próximos dias dirão se o protesto terá força suficiente para reverter o cenário.