Atitude Inesperada de Hugo Motta Causa Clima Tenso nos Bastidores da Câmara

A inesperada viagem ao exterior do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), gerou forte repercussão negativa nos bastidores de Brasília. A ausência do parlamentar ocorre em um momento crítico para a oposição, que se mobilizava para votar o pedido de urgência do polêmico projeto de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, tema que divide o Congresso e mobiliza as bases bolsonaristas.

Motta deixou o Brasil nesta semana acompanhado da família e avisou aos líderes partidários que só retorna após o feriado da Páscoa. A atitude causou indignação em setores da direita, que consideram a viagem uma manobra para evitar o avanço do projeto de anistia, uma das principais pautas da oposição atualmente.

O requerimento de urgência da proposta já conta com 258 assinaturas, apenas uma a mais do que o número mínimo necessário (257). Com a ausência de Motta, as negociações esfriaram e o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), optou por adiar a apresentação formal do requerimento. A nova previsão para discussão do tema ficou para o dia 24 de abril, quando está marcada a próxima reunião de líderes. A votação no plenário deve ocorrer apenas no final do mês, caso haja consenso político até lá.

Um dos principais nomes da base bolsonarista, o pastor Silas Malafaia, reagiu publicamente à viagem de Hugo Motta. Em tom inflamado, acusou o presidente da Câmara de fugir do debate por “conveniência política” e não hesitou em envolver o pai do parlamentar na polêmica. “A batata está assando para Hugo Motta e para o pai dele”, afirmou Malafaia, em referência ao prefeito paraibano que é alvo de uma recente operação da Polícia Federal. As declarações incendiaram ainda mais os ânimos no Congresso, principalmente entre os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, que veem na postura de Motta um obstáculo direto à aprovação da anistia.

Com a ausência de Motta, a Câmara funcionará em regime remoto na semana seguinte. A medida foi comunicada previamente pelo parlamentar, sob a justificativa de que não haveria pauta relevante para votação. Na prática, o funcionamento remoto impede o avanço de temas sensíveis e paralisa qualquer deliberação de grande impacto. Durante esse período, quem assume interinamente a presidência da Casa é o vice, Altineu Côrtes (PL-RJ), que já afirmou que não tomará decisões relevantes enquanto estiver no comando.

O projeto de anistia é uma das principais apostas da direita no Congresso. Desde o início de 2024, movimentos conservadores e apoiadores de Bolsonaro vêm pressionando parlamentares a acelerar a tramitação da proposta. O objetivo da oposição é aprovar a urgência para levar o texto diretamente ao plenário, sem passar pelas comissões temáticas, o que agilizaria o processo e aumentaria as chances de aprovação. A estratégia vinha sendo costurada nos bastidores com o apoio de lideranças conservadoras, até ser interrompida pela saída de Hugo Motta. Agora, o desafio da oposição será manter a mobilização até o fim do mês e garantir que o tema não perca força com o passar do tempo.

Nas últimas semanas, manifestações em apoio à anistia tomaram conta de várias capitais do país. Os atos públicos, organizados por apoiadores de Bolsonaro e grupos religiosos, serviram como termômetro político para o Congresso e motivaram parte dos deputados a assinar o requerimento de urgência. Além disso, campanhas nas redes sociais com hashtags como #AnistiaJá e #JustiçaParaOsInjustiçados têm feito barulho e pressionado os indecisos. A oposição aposta nesse engajamento popular para manter o tema em evidência até a retomada das atividades legislativas presenciais.

A crise política em torno da anistia acontece em um momento delicado para o país. A Petrobras registrou seu menor valor de mercado em dois anos, o que gerou instabilidade no mercado financeiro e acendeu alertas em setores econômicos. Paralelamente, o anúncio de um acordo de US$ 20 bilhões entre a Argentina e o FMI, somado à decisão de flexibilizar o controle cambial por lá, reacende o debate sobre políticas econômicas na América do Sul e coloca pressão sobre o governo brasileiro. Nesse contexto, a paralisia na Câmara é vista com preocupação por analistas políticos e investidores. A expectativa é de que os líderes partidários consigam retomar o diálogo após a Páscoa para destravar a pauta e evitar um prolongamento da crise.

A atitude de Hugo Motta, ao deixar o país em meio a um dos momentos mais sensíveis do ano no Legislativo, coloca o deputado paraibano no centro da crise política. Sua ausência não apenas travou uma pauta de forte apelo popular e grande visibilidade midiática, como também revelou fissuras na articulação da base governista e no equilíbrio de forças dentro da Câmara. Enquanto a oposição prepara o terreno para retomar a ofensiva após a Páscoa, a situação de Motta promete continuar sob os holofotes. Resta saber se, ao retornar, o presidente da Câmara conseguirá recompor o diálogo político e recuperar o controle de uma agenda que, neste momento, parece estar em mãos adversárias.

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Bruno Rigacci

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