Após Nasi declarar que ‘bolsonaristas não são bem-vindos’, Ira! tem shows cancelados no Sul do Brasil
A turnê comemorativa “Acústico 20 Anos” da banda Ira! sofreu um duro revés nesta quarta-feira (9), com o cancelamento de quatro apresentações no Sul do país, incluindo o show que aconteceria em Caxias do Sul (RS) no dia 2 de maio, na All Need Master Hall. Os outros eventos afetados estavam marcados para Jaraguá do Sul (SC), Blumenau (SC) e Pelotas (RS).
O motivo dos cancelamentos, segundo organizadores locais e a produtora 3LM Entretenimento, está diretamente ligado à repercussão negativa das declarações feitas pelo vocalista Nasi, que, durante um show em Contagem (MG) no dia 29 de março, afirmou que bolsonaristas não seriam bem-vindos em suas apresentações. A declaração gerou intenso debate nas redes sociais, dividiu o público e resultou em uma onda de pedidos de reembolso de ingressos.
O que Nasi disse no palco
Durante a apresentação mineira, Nasi foi vaiado após gritar “sem anistia”, em alusão aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Em resposta ao público, ele fez um discurso forte, que acabou viralizando:
“Pra vocês que estão vaiando, eu vou falar uma coisa: tem gente que acompanha o Ira!, mas nunca entendeu o Ira!. Tem gente que é reacionário, tem gente que é bolsonarista, isso não tem nada a ver! Vão embora da nossa vida! Não comprem nossos discos, não venham mais aos shows!”
Essa fala teve forte repercussão em grupos conservadores e em plataformas como Twitter, Facebook e TikTok, resultando em diversas campanhas de boicote à banda, especialmente em regiões onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mantém forte base de apoio popular.
Cancelamentos e impactos financeiros
Os cancelamentos foram confirmados pela 3LM Entretenimento, produtora responsável pela turnê. Em comunicado, a empresa afirmou que a decisão foi tomada “diante do expressivo número de solicitações de reembolso por parte do público”. A empresa garantiu que os valores dos ingressos serão reembolsados em até 30 dias, conforme a forma de pagamento utilizada na compra.
O Teatro Michelangelo, uma das casas de show que receberia a banda, também se manifestou, reforçando o compromisso com um ambiente de respeito e diálogo:
“Defendemos a arte como espaço de união e troca de energia positiva entre artistas e plateia. A diversidade de pensamento deve ser respeitada em todas as suas formas”, destacou a nota oficial.
A divisão política chega ao palco do rock
O episódio reacende o debate sobre liberdade de expressão artística e os limites entre opinião pessoal e posicionamento profissional. Embora a banda Ira! sempre tenha demonstrado posições políticas progressistas, o contexto polarizado do Brasil em 2025 tornou esse tipo de manifestação ainda mais delicada.
Nasi, conhecido por seu temperamento forte e engajamento social, não se retratou após o ocorrido. Pelo contrário, reforçou suas falas em entrevistas posteriores, afirmando que “não faz questão de agradar a todos” e que prefere “manter o alinhamento com sua consciência política e com os valores históricos da banda”.
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A reação do público e das redes
No X (antigo Twitter), o assunto figurou entre os trending topics com hashtags como #NasiExpulso, #SemAnistia e #CancelemONasi. Enquanto fãs históricos da banda defendem o posicionamento do vocalista, outros usuários acusam o artista de intolerância política e uso indevido de um espaço cultural para promover o que consideram “discurso de ódio”.
A situação evidencia como a polarização política afeta também o cenário artístico, com artistas sendo cobrados ou exaltados por seus posicionamentos públicos, independentemente do contexto artístico da apresentação.
Reações da classe artística
Colegas de profissão se dividiram sobre o episódio. Alguns músicos elogiaram a coragem de Nasi em se posicionar, enquanto outros criticaram o tom da declaração, destacando que, embora seja legítimo um artista expressar suas opiniões, é preciso preservar o espaço da arte como local de acolhimento e pluralidade.
“O palco não é tribunal ideológico. O público é múltiplo, e a arte deveria unir, não afastar”, comentou um produtor cultural da região Sul.
Conclusão
A polêmica envolvendo o Ira! e seu vocalista Nasi evidencia o desafio crescente enfrentado por artistas e produtores culturais em um Brasil profundamente dividido ideologicamente. O cancelamento de shows por causa de um posicionamento político explícito gera impactos financeiros, danos à imagem pública e levanta dúvidas sobre o limite entre arte e ativismo.
A liberdade de expressão segue sendo um direito fundamental, mas o caso mostra que, no mercado atual, cada palavra tem peso — e preço. O público, cada vez mais engajado politicamente, reage de forma imediata a falas que julgam ofensivas ou polarizantes, afetando bilheteria, contratos e a reputação dos envolvidos.
