Tarcísio pressiona Hugo Motta a pautar projeto da anistia
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), voltou a se posicionar publicamente nesta segunda-feira (7) a favor do projeto de lei que concede anistia aos presos pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Em entrevista durante evento em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, ele revelou estar em articulação direta com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para acelerar a tramitação do texto.
“Conversei com Hugo Motta na sexta-feira sobre isso. E vou voltar a conversar com ele agora, após a manifestação. Acho que é uma coisa que tem que ser construída e podemos ter o envolvimento de todos nesse processo. Então, é um objetivo a ser alcançado”, afirmou Tarcísio, durante o anúncio de ampliação da Linha 4-Amarela do Metrô, em evento com forte presença da imprensa.
O ato na Paulista como catalisador político
As falas do governador fazem eco ao ato realizado neste domingo (6), na Avenida Paulista, que reuniu milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um clamor coletivo por anistia aos condenados pelos atos de invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Na ocasião, Tarcísio subiu ao palanque ao lado de outros governadores e líderes da direita, reforçando o tom político da mobilização.
Tarcísio comparou o movimento atual com a anistia concedida aos perseguidos políticos durante o regime militar, nos anos 1970. A analogia, no entanto, causou polêmica, especialmente entre juristas e parlamentares da oposição, que veem diferenças profundas entre os contextos históricos.
Câmara dos Deputados: cenário favorável, mas indefinido
Segundo o Placar da Anistia, levantamento atualizado pelo jornal Estadão até a tarde desta segunda-feira, 197 deputados federais já se declararam a favor do projeto de anistia. Outros 127 se manifestaram contra e 189 ainda não se posicionaram. Para que a proposta avance na Câmara, são necessários pelo menos 257 votos favoráveis.
Caso seja aprovada na Câmara dos Deputados, a proposta segue para o Senado Federal, onde o clima é de maior resistência. Lideranças da base governista e de partidos de centro têm se mostrado cautelosas quanto ao apoio à anistia, temendo reações da sociedade civil e de órgãos como o Supremo Tribunal Federal (STF).
Alexandre de Moraes e o STF sob pressão
O projeto de anistia, na prática, representa um embate direto com o STF, especialmente com o ministro Alexandre de Moraes, relator das ações penais que julgam os envolvidos nos atos do 8 de janeiro. Moraes já foi duramente criticado por aliados de Bolsonaro, que o acusam de excessos e de “criminalização da dissidência política”.
No entanto, o ministro tem mantido firme sua posição, afirmando que os julgamentos seguem o devido processo legal e que os atos de 8 de janeiro não podem ser tratados como simples manifestações. Ele também tem reiterado que os condenados têm direito à visita religiosa e garantias constitucionais, contrapondo-se à narrativa de perseguição defendida por bolsonaristas.
Tarcísio e o risco calculado de sua estratégia
Ao se colocar como articulador da anistia, Tarcísio adota uma estratégia política delicada. De um lado, se aproxima da base bolsonarista, reforçando seu capital político junto ao eleitorado conservador — essencial para projetos futuros, como uma possível candidatura presidencial. Por outro lado, se expõe às críticas de quem vê a anistia como um risco à segurança jurídica e ao estado democrático de direito.
Analistas apontam que Tarcísio tenta equilibrar sua imagem entre o gestor técnico — legado que carrega dos tempos de ministro da Infraestrutura — e o político afinado com a direita ideológica. Esse duplo papel o coloca em posição estratégica no cenário nacional, mas também exige habilidade para não perder apoio do centro político.
Anistia como pauta explosiva: direitos civis versus responsabilização
O debate sobre a anistia aos presos do 8 de janeiro reacende discussões importantes sobre direitos civis, garantias constitucionais e a responsabilização de atos contra a democracia. Enquanto aliados do ex-presidente Bolsonaro alegam que muitos condenados são cidadãos comuns — como vendedores ambulantes —, juristas defendem que houve tentativa deliberada de ruptura institucional e que anistiar tais crimes poderia abrir um perigoso precedente jurídico.
Termos como “liberdade de expressão”, “perseguição política”, “ativismo judicial” e “impunidade institucional” voltaram a dominar os trending topics nas redes sociais, mostrando como o tema mobiliza tanto a militância da direita quanto a indignação da esquerda e do centro democrático.
Pressão popular, lobby político e o papel das redes sociais
A manifestação na Paulista e a movimentação de governadores e parlamentares têm sido amplamente potencializadas nas redes sociais. A frase dita por Bolsonaro no palanque — “Popcorn and ice cream sellers sentenced for coup attempt in Brazil” — viralizou internacionalmente e serviu como combustível para fortalecer a narrativa de injustiça promovida pelo Judiciário.
A pressão digital e o lobby de figuras públicas e influenciadores tornaram a anistia uma pauta de alta voltagem no Congresso. Deputados que antes evitavam o tema agora estão sendo cobrados publicamente por seus eleitores — especialmente os da chamada bancada conservadora.
Cenário no Senado: a batalha mais difícil
Caso o projeto supere os 257 votos na Câmara, a grande batalha será no Senado Federal. Parlamentares como Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente da Casa, têm adotado uma postura mais institucional e menos permeável à pressão das redes sociais.
A tendência é que o Senado exija mais garantias legais e pareceres técnicos antes de deliberar sobre a matéria. Setores da sociedade civil, incluindo entidades jurídicas, universidades e organizações internacionais, já sinalizaram oposição à proposta, aumentando o grau de dificuldade para sua aprovação.
Conclusão: entre o perdão e a justiça, um país ainda polarizado
A iniciativa de Tarcísio de Freitas em liderar a articulação pela anistia dos presos do 8 de janeiro recoloca o país no centro de um embate entre duas visões de mundo: uma que prega reconciliação política e outra que defende punição exemplar para ataques à democracia.
O caminho legislativo será árduo, cheio de negociações, pressões e repercussões. Enquanto isso, a polarização política segue alimentando o debate público, e o Brasil continua dividido entre aqueles que pedem anistia — e os que exigem justiça.