Taxa das Blusinhas afunda correios em Prejuízo Bilionário
A chamada “taxa das blusinhas”, imposto de importação sobre compras internacionais de até US$ 50, gerou efeitos colaterais devastadores para os Correios em 2024. Um levantamento divulgado em abril de 2025 pela própria estatal revelou um prejuízo de R$ 2,16 bilhões, resultado direto da queda no volume de encomendas internacionais, especialmente vindas da China. O cenário expôs a fragilidade da empresa pública diante de uma política tributária que, embora tenha aumentado a arrecadação federal, sacrificou a competitividade da estatal e mudou o comportamento de consumo no Brasil.
Arrecadação Recorde Para o Governo, Déficit Histórico Para os Correios
A medida foi implantada em 1º de agosto de 2024 como parte do programa Remessa Conforme, com o objetivo de equilibrar a concorrência entre o varejo nacional e os grandes marketplaces asiáticos, como Shein, AliExpress e Shopee. Com uma alíquota de 20% sobre o valor do produto, somada ao ICMS estadual (que em alguns estados como Bahia e Ceará subiu de 17% para 20%), o imposto encareceu significativamente as compras internacionais.
Apesar do governo ter comemorado uma arrecadação de R$ 2,8 bilhões, os Correios registraram um déficit total de R$ 3,2 bilhões em 2024, número que representa 50% de todo o rombo das estatais federais no governo Lula. Antes da taxação, a estatal previa faturar R$ 5,9 bilhões com encomendas da China. Na prática, arrecadou R$ 3,7 bilhões — uma queda de 37%.
Queda nas Importações e Evasão de Clientes
Segundo dados da Receita Federal, o número de encomendas internacionais caiu de 209,5 milhões em 2023 para 187,1 milhões em 2024, uma retração de 11%. A perda de receita se deve principalmente à migração dos consumidores para o varejo nacional e à entrada agressiva de empresas privadas de logística, que hoje detêm mais de 70% do mercado de entregas internacionais — uma inversão drástica, já que os Correios antes detinham 98% da participação.
“Perdemos a exclusividade num mercado em que éramos líderes absolutos. O impacto da taxa foi direto na nossa receita. Houve uma mudança brusca na logística e no comportamento de compra dos brasileiros”, disse Fabiano Silva, presidente dos Correios, durante audiência na Câmara dos Deputados em março de 2025.
Política Fiscal vs. Sustentabilidade Empresarial
A decisão de tributar compras internacionais abaixo de US$ 50 foi impulsionada por pressão de grandes varejistas nacionais, que alegavam concorrência desleal das plataformas asiáticas isentas de impostos. A resposta foi rápida, mas controversa: o governo federal sancionou a medida, mesmo com críticas públicas do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que evitou vetar o texto aprovado pelo Congresso.
A ideia era proteger a produção e o comércio nacional, mas os efeitos negativos vieram à tona. Com a alta nos preços dos produtos importados — em alguns casos, de até 30% —, houve retração no consumo e, por consequência, prejuízo para empresas que operavam no setor de logística internacional. Os Correios, já fragilizados por anos de subinvestimento e tentativas frustradas de privatização durante o governo Bolsonaro, sofreram o impacto de maneira mais intensa.
Exemplo Prático: A Nova Realidade do Consumidor
Antes da taxação, uma blusinha comprada por R$ 100 no exterior chegava ao Brasil com custo total de R$ 144,57 (incluindo taxas alfandegárias e ICMS). Com as novas alíquotas, o valor final saltou para R$ 150 ou mais, dependendo do estado. Essa diferença levou o consumidor a optar por alternativas nacionais, o que beneficia o comércio local, mas limita o acesso a produtos internacionais de baixo custo — uma das principais razões da popularidade de plataformas como Shein e Shopee.
Estratégias para Sobrevivência: Correios Tentam se Reinventar
Diante do prejuízo bilionário, os Correios anunciaram medidas emergenciais para retomar a sustentabilidade da estatal. Entre elas, o lançamento de um marketplace próprio, previsto para 2025, que busca diversificar a receita e concorrer diretamente com gigantes do e-commerce.
Também está em estudo a revisão do decreto de tributação simplificada, para tentar recuperar parte do mercado perdido. A estratégia visa tornar os Correios mais atrativos para pequenos importadores e empresas nacionais que dependem da logística internacional.
“Precisamos olhar para o mercado interno, adaptar nossa operação e recuperar nossa competitividade. A crise que enfrentamos não é apenas financeira, mas estrutural”, afirmou Fabiano Silva.
Reações do Mercado e Especialistas
A movimentação do governo e da estatal tem gerado reações distintas. Enquanto representantes do varejo nacional comemoram o aumento da concorrência justa, especialistas em economia e logística alertam para os efeitos colaterais da medida.
Analistas do setor apontam que o prejuízo dos Correios em 2024 pode ser apenas o começo de uma tendência preocupante, caso o ICMS continue subindo — o que está previsto para abril de 2025. Com a previsão de nova queda no volume de encomendas internacionais, há risco de a estatal acumular déficits ainda maiores nos próximos anos.
A Crise dos Correios no Contexto Nacional
O rombo bilionário da empresa coloca os Correios entre as 10 estatais com maior déficit no Brasil, pressionando o governo federal a repensar sua política econômica e o papel das empresas públicas. Em um contexto de alta inflação, aumento de impostos e desaceleração no consumo, decisões equivocadas podem comprometer setores estratégicos da economia.
A crise da estatal também coloca em dúvida a viabilidade de sua privatização futura, já que empresas em desequilíbrio financeiro tendem a ser menos atrativas para o setor privado.
Conclusão: Uma Medida com Duplo Impacto
A “taxa das blusinhas” cumpriu o objetivo de aumentar a arrecadação fiscal e proteger o varejo nacional, mas deixou um rastro de prejuízos severos para os Correios, encarecimento para os consumidores e mudanças profundas no mercado de logística.
A situação evidencia a necessidade de políticas públicas mais equilibradas, que contemplem os interesses do Estado sem comprometer empresas estratégicas como os Correios. A próxima fase dependerá da capacidade da estatal de se reinventar, da flexibilidade do governo em revisar políticas impopulares e do surgimento de soluções sustentáveis para o e-commerce internacional.