Regulação de Big Techs no Brasil alerta Trump
A regulação das grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs, no Brasil está no centro de um debate acirrado em 2025. Em um cenário onde a busca por maior soberania digital ganha força, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva estuda medidas para regulamentar empresas como Google, Meta e Amazon, visando questões como privacidade de dados, desinformação e o poder econômico dessas gigantes. No entanto, essa movimentação pode desencadear sérias consequências nas relações internacionais, especialmente com os Estados Unidos, que veem essas empresas como pilares da sua economia e poder global.
Em uma entrevista recente à Revista Oeste, o ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, alertou sobre o risco de retaliações por parte dos EUA. Segundo Barbosa, qualquer tentativa de imposição de restrições contra essas big techs no Brasil seria encarada como um desafio direto à agenda de desregulamentação promovida por Donald Trump, ex-presidente americano e um defensor de políticas que favorecem o livre mercado e a flexibilidade regulatória.
Possíveis Consequências para o Brasil
A análise de Barbosa sugere que o governo brasileiro pode enfrentar uma resposta agressiva dos Estados Unidos, seja por meio de tarifas econômicas, como as aplicadas no passado ao aço brasileiro, ou através de pressões diplomáticas para reverter a regulação. O ex-embaixador, com vasta experiência em negociações internacionais, lembra que a situação atual é complexa e exige cautela. Embora o Brasil tenha uma posição estratégica na América Latina, não possui o mesmo “cacife” econômico ou diplomático que países como Canadá e China, que já sinalizaram sua disposição para retaliar medidas americanas.
Além disso, a proximidade de Trump com líderes das big techs, como Elon Musk (Tesla, SpaceX) e Mark Zuckerberg (Meta), fortalece a hipótese de uma reação coordenada contra o Brasil. O ex-embaixador alerta que o Brasil deve evitar um confronto direto com os EUA, pois a relação com as grandes potências tecnológicas é vital para o país em um momento de recuperação econômica global instável.
A Regulação e o Desafio da Soberania Digital
Por outro lado, as pressões internas para regulamentar as big techs têm crescido nos últimos anos. O Brasil busca proteger sua soberania digital, regulamentando empresas que operam sem uma fiscalização robusta. A regulação das gigantes tecnológicas não apenas visa dar mais segurança ao consumidor, mas também promover uma distribuição mais equitativa dos benefícios gerados pela economia digital. Medidas como a criação de uma “digital tax” sobre os lucros das big techs, já discutida em fóruns internacionais como a OCDE, estão sendo avaliadas como formas de pressionar essas empresas a contribuir mais substancialmente para os cofres públicos, sem prejudicar o acesso à inovação e à tecnologia.
No entanto, Barbosa ressalta que o Brasil não possui uma coalizão internacional tão forte quanto a União Europeia ou a Austrália, que têm adotado abordagens mais assertivas contra essas empresas. Sem o apoio de uma aliança global, o Brasil se vê em uma posição vulnerável ao tentar avançar na regulação.
A Diplomacia Como Solução: O Caminho da Negociação
Em meio a esses desafios, Rubens Barbosa defende que a melhor estratégia para o Brasil é a negociação diplomática. Em seu tempo como embaixador, ele obteve êxito em resolver disputas comerciais de alto nível com os Estados Unidos, incluindo a exclusão de tarifas sobre o aço brasileiro durante o governo de George W. Bush. O ex-embaixador sugere que o governo brasileiro busque acordos com os EUA para encontrar um meio-termo, sem descartar as iniciativas de regulação, mas evitando um confronto aberto.
O Impacto na Relação Brasil-EUA e no Cenário Global
O debate sobre a regulação das big techs não é apenas uma questão interna brasileira, mas um dos muitos elementos que irão moldar o futuro das relações Brasil-EUA nos próximos anos. Para Rubens Barbosa, o Brasil precisa equilibrar sua agenda de soberania digital com as pressões externas, principalmente dos EUA, que poderiam responder com retaliações econômicas ou diplomáticas, prejudicando a economia brasileira, especialmente em um contexto já marcado pela instabilidade global.
O Brasil, enquanto busca reforçar sua posição como líder digital na América Latina, enfrenta o risco de um isolamento diplomático, caso a regulação seja mal conduzida. A experiência de Barbosa aponta que uma abordagem cautelosa e estratégica, acompanhada de uma diplomacia eficaz, poderá garantir que o país não apenas defenda seus interesses nacionais, mas também preserve uma relação construtiva com as grandes potências do comércio digital.
Conclusão: O Futuro das Relações Internacionais do Brasil
O desfecho dessa questão, que envolve a regulação das big techs e as tensões com os Estados Unidos, promete ter repercussões além das fronteiras nacionais. O Brasil, ao buscar a soberania digital, deve tomar decisões que não apenas protejam seus cidadãos e sua economia, mas que também não coloquem em risco sua relação com potências globais.
Se bem-sucedido, o país pode emergir como um líder na regulamentação do setor digital, sem perder sua posição estratégica nas relações internacionais. Caso contrário, o Brasil poderá enfrentar um cenário de conflito com os EUA, com sérias consequências econômicas e diplomáticas. O futuro da regulação digital no Brasil dependerá, portanto, da habilidade do governo de articular uma política equilibrada, capaz de conciliar interesses internos e externos, em um cenário global de grandes transformações.