“Isto é uma vergonha”, diz Mourão sobre entrevista de Gilmar
O senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente da República, se manifestou de forma contundente contra as declarações do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em entrevista ao Estado de São Paulo. Mourão considerou as palavras de Mendes uma “vergonha” e afirmou que elas comprometem a confiança na imparcialidade da Justiça brasileira.
Em sua conta no X (antigo Twitter), Mourão criticou a postura do ministro, que, ao opinar sobre um caso que ainda será julgado, teria violado princípios fundamentais do Estado de Direito. Para o senador, essa atitude “rasga tudo aquilo que constitui o Estado de Direito”, além de enfraquecer a credibilidade nas decisões judiciais.
“A entrevista do Exmo Sr. Ministro Gilmar Mendes ao Estado de São Paulo faz cair por terra a crença na imparcialidade da Justiça. Ao opinar sobre caso que irá julgar, o Ministro rasga tudo aquilo que constitui o Estado de Direito. Como diria um comentarista da vida pública: ‘isto é uma vergonha’”, escreveu Mourão, expressando seu descontentamento.
Gilmar Mendes sobre os atos de 8 de janeiro
A entrevista em questão gerou repercussão devido às afirmações do ministro Gilmar Mendes sobre os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Para Mendes, os atos de insurreição foram “muito próximos do terrorismo” e não devem ser contemplados por qualquer projeto de anistia que esteja em discussão no Congresso.
Em sua fala, o ministro reforçou que os atos de 8 de janeiro representam crimes gravíssimos contra o Estado de Direito e que a tentativa de desestabilizar o governo não pode ser minimizada. Mendes também afirmou que a proposta de anistia, que poderia beneficiar Bolsonaro e seus aliados, não deveria prosperar, uma vez que os crimes cometidos durante os atos são de extrema gravidade.
“São crimes muito próximos do terrorismo, contra o próprio Estado de Direito, e não deveriam ser contemplados por anistia. Não vejo condições para que esse debate prossiga na vida jurídica, mas entendo a perspectiva política, a ideia de falar-se em exagero judicial, de tentar minimizar os fatos do 8 de janeiro. Nós não podemos nunca esquecer esses fatos e seus contextos.”
Críticas ao Exército e à tolerância com os acampamentos
Além disso, Gilmar Mendes fez duras críticas à postura do Exército, que, segundo ele, foi permissivo em relação aos acampamentos montados por apoiadores de Bolsonaro antes dos atos de 8 de janeiro. O ministro afirmou que a tolerância do Exército foi crucial para a realização dos ataques, pois as forças militares forneceram apoio logístico, como luz e água, aos manifestantes.
“Foram eles que deram assentimento, forneceram luz, forneceram água para essas pessoas.”
Essas declarações de Gilmar Mendes se somam a um debate político acirrado sobre a responsabilidade do governo anterior e dos militares nos episódios de janeiro de 2023. Ao defender a gravidade dos atos e a importância de não haver anistia para os responsáveis, o ministro reafirma sua posição de não minimizar os acontecimentos, mesmo diante das pressões políticas.
Conclusão: O impacto das declarações
As palavras de Gilmar Mendes têm gerado intensas reações, tanto no meio político quanto entre os analistas jurídicos. Para críticos como Hamilton Mourão, a manifestação de um juiz sobre um caso que ainda será julgado compromete a confiança no sistema judicial. Enquanto isso, a defesa do ministro sobre a gravidade dos eventos de 8 de janeiro e a rejeição a uma possível anistia refletem a tensão política atual no Brasil, que ainda debate as consequências dos atos golpistas de 2023.