Mesmo depois de morto, Olavo de Carvalho é citado como ‘guru’ de organização criminosa em inquérito do STF
Mais de dois anos após sua morte, o nome de Olavo de Carvalho, filósofo e uma das figuras mais polêmicas do cenário político brasileiro, voltou a ser citado em uma investigação criminal conduzida pela Polícia Federal (PF). Documentos obtidos pela corporação e anexados ao inquérito que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado fazem referência a Olavo como o “guru” de uma organização criminosa envolvida em ações contra as instituições democráticas do Brasil.
A citação ao filósofo surge em um contexto bastante simbólico. Em 25 de janeiro de 2022, dia de sua morte, o jurista Amauri Feres Saad publicou no Instagram uma imagem na qual Olavo de Carvalho aparece segurando um dos livros de Saad. Esse post foi destacado na investigação, que aponta a influência das ideias de Olavo como um dos pilares para o fortalecimento de um grupo que estaria promovendo ataques ao Estado Democrático de Direito.
A investigação revelou que o filósofo, conhecido por sua postura conservadora e por sua relação próxima com o então presidente Jair Bolsonaro, teve uma influência direta em grupos que visavam desestabilizar o sistema democrático. A PF destaca que o pensamento de Olavo foi central para a ideologia que permeava a organização criminosa investigada.
Além disso, segundo a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o jurista Amauri Feres Saad também desempenhou um papel importante na articulação desse grupo. Cid afirmou que Saad teria influenciado diretamente os integrantes que tentavam justificar ações para a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, com base na interpretação do artigo 142 da Constituição.
Este artigo, que trata das Forças Armadas, foi usado por alguns apoiadores de Bolsonaro como base para defender a ideia de que os militares poderiam intervir em questões políticas. Saad, inclusive, escreveu um livro intitulado “O art. 142 da Constituição de 1988: Ensaio sobre a sua interpretação e aplicação”, que circulou amplamente entre os membros do grupo investigado. Em grupos de WhatsApp, como o “Dosssss!!!”, os integrantes discutiam a interpretação do artigo e compartilhavam as ideias de Saad.
As investigações também apontam que Saad, junto com figuras como Felipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, e o padre José Eduardo de Oliveira e Silva, participou de encontros no Palácio da Alvorada após as eleições de 2022. Durante esses encontros, o grupo teria apresentado uma minuta de decreto que propunha a prisão de autoridades e a convocação de novas eleições, o que configura uma tentativa de golpe contra a democracia.
A referência a Olavo de Carvalho, apesar de sua morte, reforça a continuidade de sua influência no cenário político e nas estratégias de seus seguidores. A PF segue aprofundando as investigações, enquanto o Brasil observa o desdobramento de um dos maiores processos de apuração sobre tentativas de subversão da ordem democrática na história recente do país.