Lula perde popularidade entre mulheres, negros, nordestinos, mais pobres e menos escolarizados
A aprovação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sofreu uma queda drástica nos últimos dois meses, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira (14). A avaliação positiva do presidente despencou de 35% para 24%, enquanto a reprovação subiu de 34% para 41%, atingindo o pior patamar em seus três mandatos à frente da Presidência da República.
A pesquisa revelou que a perda de popularidade é generalizada, afetando segmentos importantes do eleitorado de Lula, como mulheres, negros, nordestinos, pessoas de menor renda e os menos escolarizados. A pesquisa foi realizada entre os dias 10 e 11 de fevereiro, com 2.007 entrevistados em 113 cidades do Brasil, e apresenta uma margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Análise por Segmentos Demográficos
Gênero
A aprovação do governo entre as mulheres sofreu uma queda significativa de 14 pontos percentuais, passando de 38% para 24%. Esse declínio coloca as mulheres no mesmo patamar de insatisfação dos homens, cujos índices também apresentaram queda, embora em menor intensidade, caindo 9 pontos, de 33% para 24%.
Raça
A queda de popularidade foi mais acentuada entre os grupos de pretos e pardos. Entre os negros, a aprovação ao governo caiu 15 pontos percentuais, passando de 44% para 29%. Já entre os pardos, a queda foi de 13 pontos, de 36% para 23%. Os brancos também viram uma redução na aprovação, embora em menor escala: de 29% para 21%.
Regiões
A perda de popularidade de Lula variou significativamente entre as regiões do país, sendo mais pronunciada no Nordeste, onde a aprovação despencou 16 pontos percentuais, de 49% para 33%. No Sudeste, a queda foi de 11 pontos. Essas duas regiões, que juntas representam 69% da amostra da pesquisa, têm um impacto direto no resultado geral. No Centro-Oeste, a aprovação caiu 9 pontos, enquanto no Sul a queda foi mais moderada, de 5 pontos. Apesar da queda acentuada, o Nordeste ainda é a única região onde a avaliação positiva de Lula (33%) ainda supera a negativa (30%).
Renda
A queda na aprovação foi mais pronunciada entre os eleitores de menor renda, especialmente aqueles com ganhos familiares de até dois salários mínimos (R$ 3.036). Esse grupo, que representa 51% da amostra e 60% do eleitorado de Lula, viu a aprovação ao governo despencar de 44% em dezembro para 29% atualmente. Já entre os mais ricos, com renda superior a dez salários mínimos (R$ 15.180), a insatisfação continua a ser predominante, com a aprovação caindo de 32% para 18%. No entanto, a variação entre os mais ricos é considerada dentro da margem de erro, dada a amplitude da diferença de 12 pontos percentuais.
Escolaridade
Entre os eleitores com nível educacional mais baixo, especialmente aqueles que possuem apenas o ensino fundamental, a aprovação caiu consideravelmente. Enquanto 38% desse grupo ainda aprovam o governo, a avaliação positiva caiu de 53% em dezembro. Esses eleitores, que representam aproximadamente um terço da população, se mostram um segmento crucial na avaliação da gestão de Lula, e a queda expressiva pode ter um impacto relevante no futuro político do governo.
Reflexões e Implicações
A pesquisa Datafolha revela uma perda de popularidade alarmante para o governo Lula, com um impacto evidente entre segmentos-chave do eleitorado que historicamente constituíam sua base de apoio. A queda entre as mulheres, negros, nordestinos e pessoas de baixa renda sugere uma insatisfação crescente com as políticas adotadas pelo governo, refletindo um distanciamento de parcelas da população que foram fundamentais para sua eleição.
Além disso, a desaceleração da popularidade de Lula no Nordeste — a região onde ele sempre teve forte apoio — pode sinalizar um possível enfraquecimento nas bases políticas do PT. Se essa tendência continuar, poderá afetar a agenda legislativa do governo, já que as perdas eleitorais podem resultar em maior resistência política, especialmente em um Congresso onde a oposição agora tem mais protagonismo.
Em um cenário de alta inflação, crescimento das desigualdades e desafios econômicos, o governo terá de encontrar formas de reconquistar a confiança do eleitorado, principalmente nos grupos mais impactados pela queda de popularidade. A recuperação da popularidade de Lula dependerá de uma combinação de reformas econômicas eficazes, programas sociais que atendam a quem mais precisa, e de uma maior conexão com as demandas de diferentes segmentos da população.
Conclusão
A pesquisa mostra um cenário de crescente insatisfação com o governo de Lula, que está diante de um desafio significativo para reconquistar a confiança de sua base eleitoral. À medida que a aprovação continua a cair, será crucial para o governo adotar estratégias para abordar as preocupações sociais e econômicas de setores da população que se sentem mais distantes das políticas implementadas até o momento. A queda acentuada da popularidade poderá influenciar diretamente as negociações políticas e a estabilidade da atual administração.