Fachin vota a favor de “ADPF das Favelas”, que quer reduzir letalidade policial

O ministro Edson Fachin, relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) conhecida como “ADPF das Favelas”, iniciou a sessão desta quarta-feira (5) com a apresentação do seu voto favorável à ação que questiona o uso da força policial no Rio de Janeiro, especialmente durante as operações nas comunidades. Fachin defendeu que o uso da força por parte da polícia deve ser progressivo, sendo inadmissível iniciar as incursões com o uso máximo da força.

O ministro enfatizou a necessidade de uma redução gradual da letalidade nas operações, considerando parâmetros proporcionais ao contexto do estado. “Em uma camada mais profunda, na qual só resta o que chamamos de esperança, almeja-se que conduza uma consolidação ainda que gradualmente de uma nova cultura organizacional com mais transparência, eficiência, que reverterá mais segurança pública para todos”, declarou Fachin.

Durante a apresentação dos dados, o levantamento realizado pelo ministro revelou um aumento nas mortes de policiais durante operações no Brasil. Em complemento a esse dado, o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que a eficácia do trabalho policial não deve ser medida pela letalidade, destacando que é “absolutamente falso que uma polícia que mata mais é mais eficiente”.

Em contraponto, o ministro Alexandre de Moraes se posicionou a favor do uso de “força máxima possível” pelas polícias em operações contra milícias e tráfico de drogas no Rio de Janeiro, criticando a visão de uso progressivo da força. Moraes, no entanto, destacou a importância de punir desvios e abusos de poder, ressaltando que o Ministério Público e o Judiciário devem fiscalizar esses excessos.

Fachin manteve, em seu voto, regras como o uso obrigatório de câmeras corporais pelas polícias, a restrição do uso de helicópteros apenas em casos de “estrita necessidade”, e a realização de buscas domiciliares apenas durante o dia. Ele também destacou que o uso da força precisa seguir os princípios da ONU. Além disso, o ministro sugeriu a criação de relatórios detalhados após cada operação policial e a comprovação do uso das câmeras pela Polícia Civil, além de recomendar a criação de um programa de assistência à saúde mental para os profissionais de segurança pública.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, informou que o julgamento da ADPF foi suspenso e deverá ser retomado em cerca de três semanas, para que os ministros tenham tempo de analisar a complexidade do voto de Fachin.

A ADPF das Favelas foi apresentada pelo PSB em 2019 e busca que o Estado do Rio de Janeiro desenvolva um plano para a redução da letalidade policial, crie um grupo de trabalho sobre a polícia cidadã no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e só permita o uso de força letal quando devidamente justificado.

A sessão foi acompanhada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e pela família da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em 2018, em um momento de grande simbolismo para a discussão sobre violência policial e direitos humanos no estado.

Compartilhe nas redes sociais

Bruno Rigacci

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site usa cookies para garantir que você tenha a melhor experiência em nosso site! ACEPTAR
Aviso de cookies