Crise segue no IBGE após suspensão de fundação
A gestão de Marcio Pochmann à frente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem sido marcada por crescentes críticas de servidores, que denunciam uma postura autoritária e a falta de diálogo em decisões que afetam diretamente a rotina do órgão. As críticas são ainda mais intensas em relação a mudanças nos processos internos, incluindo a criação da fundação de apoio IBGE+, que gerou grande controvérsia.
O Estopim da Crise: IBGE+ e o “IBGE Paralelo”
O ponto de maior tensão foi a criação da IBGE+, uma fundação de apoio cuja principal finalidade seria captar recursos privados para o instituto. A iniciativa foi vista por muitos servidores como uma tentativa de criar um “IBGE paralelo”, sem o devido debate com o corpo técnico. Além disso, a proximidade do nome da fundação com a instituição foi apontada como um risco para a imagem do IBGE, caso houvesse problemas no andamento das pesquisas. A gestão de Pochmann, por outro lado, defendeu a criação da fundação como uma medida necessária para enfrentar as restrições orçamentárias, citando como exemplo as dificuldades enfrentadas para concluir o Censo Demográfico 2022.
A decisão de suspender a IBGE+ temporariamente em 29 de janeiro não conseguiu estancar a crise. As críticas a Pochmann continuam a crescer dentro da instituição, e a principal dúvida agora é se ele será capaz de reconstruir os laços com os servidores e avançar em seus projetos.
Desrespeito às Diretrizes de Comunicação
Outro episódio que aumentou a insatisfação foi a política de comunicação do IBGE. Em uma carta divulgada no dia 31 de janeiro, servidores concursados do setor de comunicação acusaram a gestão de Pochmann de desrespeitar as diretrizes estabelecidas pelo órgão para a área. Segundo o texto, as publicações nas redes sociais e na agência de notícias do IBGE têm sido dominadas por matérias sobre o presidente e suas realizações, em detrimento das informações relacionadas às pesquisas e dados estatísticos fundamentais para o instituto.
A carta, que já contava com mais de 300 assinaturas, critica a substituição dos servidores de carreira por profissionais externos, que, segundo os autores, priorizam notícias sobre a gestão em vez de informações relevantes sobre os resultados das pesquisas.
Mudança de Sede e Conflitos com Infraestrutura
Outro ponto de discordância envolve a transferência de servidores do IBGE da sede na Avenida Chile, no centro do Rio de Janeiro, para um imóvel do Serpro no Horto Florestal, na zona sul. A mudança, considerada temporária pela presidência do IBGE, foi justificada como uma maneira de economizar recursos, com a promessa de que a quantia poupada seria investida em reformas de outros imóveis do instituto. No entanto, servidores apontam a falta de diálogo no processo e a dificuldade de acesso ao novo local, que, segundo eles, não possui a infraestrutura necessária para abrigar as equipes.
O Fim do Trabalho Remoto e o Clima de Instabilidade
A gestão de Pochmann também tem enfrentado resistência quanto ao fim do modelo integral de trabalho remoto. Os servidores afirmam que não foram consultados adequadamente sobre a medida, que, segundo a administração, visa preparar o IBGE para receber cerca de mil novos funcionários por meio do Concurso Público Nacional Unificado (CNU). Além disso, a gestão afirmou que as críticas seriam motivadas por interesses pessoais e lembrou que a maioria dos institutos de estatísticas ao redor do mundo já havia retornado ao trabalho presencial.
Esse clima de tensão culminou em uma carta divulgada por coordenadores e gerentes de pesquisas em janeiro, na qual afirmam que o ambiente no IBGE está “deteriorado” e que as lideranças enfrentam sérias dificuldades para desempenhar suas funções.
Acusações de Consultorias Privadas e Política Institucional
Outro episódio que alimentou a crise foi a divulgação de uma apuração interna sobre supostas consultorias privadas funcionando de forma ilícita dentro do IBGE. A administração do órgão apontou a Science – Sociedade para o Desenvolvimento da Pesquisa Científica como uma das entidades envolvidas, mas a consultoria negou as acusações, reafirmando que não havia vínculo com o IBGE.
Além disso, servidores questionaram a publicação de um texto com possíveis conotações políticas no periódico “Brasil em Números”, que, segundo eles, violava a imparcialidade que se espera de um instituto de estatísticas. Pochmann, por sua vez, minimizou as críticas, afirmando que não havia violado nenhuma norma do IBGE.
Desafios de Pochmann: Consequências para o Futuro do IBGE
Diante dessa crise, a grande dúvida que persiste é se Marcio Pochmann conseguirá superar o desgaste, reconstruir os vínculos com os servidores e avançar em suas propostas de transformação do IBGE. Embora ele defenda que mudanças são necessárias para modernizar a estrutura da instituição, muitos dentro do órgão questionam sua abordagem autoritária e a falta de consulta ao corpo técnico.
O futuro do IBGE parece incerto, e a gestão de Pochmann enfrenta agora o desafio de reverter a imagem negativa que tomou conta da instituição, além de garantir que seus projetos avancem sem maiores turbulências.