Sindicato do IBGE rebate Pochmann: Não nos intimidaremos com ameaças e ilações
A crise interna no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se intensificou esta semana, após uma carta aberta do presidente Marcio Pochmann, divulgada na quarta-feira (15), em que acusava servidores de propagar informações falsas sobre a instituição e sugeria recorrer à Justiça contra as críticas recebidas. A declaração gerou uma reação imediata do sindicato da categoria, o Assibge-SN, que se manifestou afirmando que não se intimidaria com as ameaças e continuaria sua mobilização, especialmente contra a criação da fundação de direito privado IBGE+, proposta durante a gestão de Pochmann.
A Carta de Pochmann
No comunicado oficial, Pochmann afirmou que existiam “conflitos de interesses individuais e particulares” que prejudicavam a missão institucional do IBGE. Ele também mencionou “riscos de manipulação” e a propagação de “informações falsas”, sugerindo que a Justiça poderia ser acionada para tratar dos ataques que, segundo ele, estavam sendo feitos por servidores e entidades sindicais. A carta, em parte, reflete o clima tenso e polarizado dentro da instituição, com a presidência acusando de maneira enfática aqueles que discordam das mudanças implementadas.
Pochmann também criticou o que chamou de “divulgação constante de inverdades”, destacando que isso comprometeria a credibilidade histórica do IBGE, uma instituição com quase 90 anos de existência. Em sua visão, os ataques ao IBGE estavam sendo realizados principalmente nas redes sociais e em meios de comunicação, ampliando a crise interna.
A Resposta do Sindicato Assibge-SN
Em resposta, o sindicato Assibge-SN expressou perplexidade diante do fato de que a presidência estava alimentando uma crise que poderia colocar em risco a credibilidade do IBGE. Segundo a nota divulgada pelo sindicato, a criação da fundação IBGE+ representava uma ameaça ao legado da instituição, uma vez que poderia afetar a autonomia técnica e a imparcialidade das pesquisas realizadas. A fundação permitiria, entre outros aspectos, a contratação de pessoas externas e a realização de estudos sem a supervisão rigorosa do IBGE, algo que os trabalhadores consideram um retrocesso.
“A entidade sindical recebe com grande perplexidade o fato de a presidência do IBGE alimentar uma crise que coloca em risco, ao menos no ambiente das redes, o maior patrimônio construído ao longo de quase 90 anos da instituição: sua credibilidade”, afirmou a nota do sindicato.
A Criação da Fundação IBGE+
Um dos principais pontos de atrito entre a gestão de Pochmann e os servidores é a criação da fundação IBGE+, apelidada de “IBGE paralelo”. O sindicato vê a fundação como uma possível forma de enfraquecer a atuação do IBGE, com impactos negativos na qualidade e independência das pesquisas. Pochmann, por sua vez, defende a criação da fundação como uma alternativa para enfrentar desafios financeiros e operacionais da instituição, mas não consultou amplamente o quadro técnico antes de sua implementação, o que gerou ainda mais descontentamento entre os funcionários.
O sindicato também alertou sobre o risco de a fundação permitir a entrada de influências externas no IBGE, o que poderia comprometer a confiabilidade dos dados produzidos pela instituição.
Renúncias e Insatisfação na Direção
A crise se agravou com a renúncia de membros da direção do IBGE. Na semana passada, Elizabeth Belo Hypólito e João Hallak Neto, que ocupavam cargos na Diretoria de Pesquisas, pediram exoneração devido a discordâncias com a gestão atual. Ivone Lopes Batista, diretora de Geociências, também teria solicitado sua saída, embora sua renúncia ainda não tenha sido formalizada.
O sindicato ressaltou que essas exonerações não são casos isolados, mas refletem um mal-estar generalizado dentro da instituição, que atinge até mesmo o Conselho Diretor do IBGE. “As recentes exonerações na Diretoria de Pesquisas mostram que não se trata de uma simples discordância entre gestão e sindicato ou de um descontentamento isolado de uma pequena parcela de servidores. O descontentamento já alcançou o Conselho Diretor do IBGE”, afirmou o comunicado do Assibge-SN.
Outros Ponto de Conflito: Regime de Trabalho e Mudanças Administrativas
Além da criação da fundação IBGE+, o sindicato também critica outras decisões da atual gestão, como o fim do regime integralmente remoto e a transferência de servidores de um prédio no centro do Rio de Janeiro para uma instalação do Serpro, na zona sul. A mudança de local de trabalho foi justificada pela presidência como uma medida para reduzir custos com aluguel e manutenção, mas os trabalhadores consideram que a medida afeta negativamente o bem-estar e a produtividade dos servidores, sem garantir investimentos adequados para a melhoria da infraestrutura da instituição.
A Falta de Diálogo e a Postura da Gestão
Um dos pontos mais criticados pelo sindicato é a falta de diálogo com os servidores e a postura autoritária da gestão de Pochmann, que tem classificado genericamente todas as discordâncias como mentiras. O sindicato argumenta que essa postura banaliza o combate à desinformação e não resolve os problemas estruturais da instituição. O Assibge-SN reafirma seu compromisso com a defesa da autonomia técnica do IBGE, essencial para a produção de dados confiáveis e de alta qualidade.
“A atual gestão assumiu um IBGE com financiamento insuficiente, infraestrutura precária e um quadro de trabalhadores, em sua metade, submetidos a condições de trabalho precarizadas. Não se nega, portanto, o cenário desafiador recebido pela nova presidência. Contudo, espera-se que a direção busque, junto ao Executivo e ao Legislativo, os recursos necessários para o funcionamento adequado da instituição”, afirmou o sindicato em sua nota.
A Continuação da Crise
A crise no IBGE continua sem solução à vista, com os servidores se mobilizando contra a fundação IBGE+ e outras mudanças promovidas pela atual gestão. O impasse entre a presidência e o sindicato parece longe de ser resolvido, e muitos temem que a disputa interna acabe prejudicando ainda mais a imagem e a eficácia do IBGE, uma instituição essencial para a coleta de dados e o planejamento estratégico no Brasil.
A resposta do sindicato indica que o clima de tensão deve persistir, e a pressão por uma maior abertura ao diálogo será uma das chaves para o desfecho desse conflito.