Agricultores Franceses protestam contra Mercosul com Tratores em Paris

Agricultores franceses estão em plena mobilização contra o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, que está gerando tensões em várias regiões da França. Os protestos começaram na segunda-feira, 18 de novembro, e desde então têm se intensificado, com a utilização de tratores para bloquear estradas, especialmente nas áreas ao redor de Paris. O movimento é uma reação direta às preocupações sobre o impacto do acordo nas exportações agrícolas francesas, particularmente no que diz respeito à concorrência desleal de produtos provenientes da América do Sul, como carne bovina e frango.

O principal argumento dos agricultores é que os produtos sul-americanos não seguem os mesmos padrões ambientais e sanitários que os da UE, o que, segundo eles, poderia prejudicar a competitividade da produção agrícola nacional. Além disso, os agricultores temem que a abertura do mercado europeu para esses produtos possa levar a uma diminuição da qualidade e da segurança alimentar, já que os países do Mercosul não aplicam as mesmas exigências rigorosas em termos de pesticidas, regulamentações sanitárias e bem-estar animal.

O acordo entre a UE e o Mercosul, que visa reduzir barreiras comerciais e aumentar as trocas de bens e serviços, foi fechado após anos de negociações, mas tem sido um ponto de discórdia dentro da União Europeia. Países como a França, que possuem uma forte tradição agrícola, têm expressado resistências ao pacto, temendo que ele favoreça ainda mais os produtores de fora do bloco europeu e prejudique os interesses de seus próprios agricultores.

A Intensificação dos Protestos

Os protestos, inicialmente limitados a bloqueios de estradas, agora estão se expandindo para ações mais contundentes. Os sindicatos agrícolas, como a Coordenação Rural (CR), anunciaram que continuarão com os protestos até que suas exigências sejam atendidas. A principal demanda é a revisão do acordo, ou até mesmo um veto claro da França à sua versão atual. Os manifestantes querem ações concretas e não apenas promessas vazias do governo francês.

Um dos slogans mais recorrentes nos protestos tem sido: “Chega de promessas, comece com ação”, refletindo a crescente frustração dos agricultores com a postura do presidente Emmanuel Macron. O governo francês tem se mostrado cauteloso em relação às reivindicações, e embora Macron tenha afirmado que o acordo será benéfico para a economia da UE, ele também prometeu que as questões ambientais e sanitárias serão levadas em consideração nas futuras negociações.

Ameaça ao Setor Agrícola Nacional

Para os agricultores franceses, a ameaça vai além da simples competição econômica. A temida “concorrência desleal” que viria com a abertura de mercado para a carne bovina e o frango do Mercosul tem o potencial de abalar profundamente o setor agrícola nacional. Na França, as regulamentações para produção de alimentos são extremamente rigorosas, com altos padrões de qualidade e sustentabilidade. Esses agricultores temem que a importação de produtos de países do Mercosul, onde as regulamentações ambientais e sanitárias são mais brandas, crie uma distorção no mercado e prejudique o setor.

Além disso, os produtores franceses veem a importação desses produtos como uma ameaça à segurança alimentar e ao controle de qualidade dos alimentos consumidos na UE. As exigências de rastreabilidade e controle de pesticidas, por exemplo, são mais rigorosas na Europa, e muitos temem que o influxo de produtos mais baratos, mas de qualidade inferior, coloque em risco a confiança do consumidor europeu.

O Papel da União Europeia e a Divisão Interna

O acordo UE-Mercosul ainda está longe de ser ratificado e enfrenta uma resistência crescente dentro do bloco europeu. Países como França, Áustria e Irlanda têm sido críticos das condições do pacto, principalmente devido às preocupações ambientais e agrícolas. No entanto, outros países, como a Alemanha e a Itália, têm defendido o acordo, citando suas potenciais vantagens econômicas, como o aumento das exportações para mercados importantes na América Latina.

A divisão interna da UE sobre o acordo reflete um dilema maior sobre como equilibrar os interesses econômicos e comerciais com a preservação dos setores agrícolas locais e a proteção dos consumidores europeus. Além disso, a pressão dos agricultores franceses coloca o governo Macron em uma posição difícil, pois ele precisa conciliar suas promessas de crescimento econômico com a necessidade de preservar a estabilidade e a viabilidade do setor agrícola francês.

Protestos podem se expandir para portos e centros logísticos

Os sindicatos agrícolas não estão limitando suas ações a bloqueios de estradas. A Coordenação Rural anunciou que suas mobilizações podem se expandir para os centros logísticos e portos do país, com o objetivo de aumentar a pressão sobre o governo e demonstrar sua determinação em impedir a ratificação do acordo em sua forma atual. Com isso, as tensões podem aumentar ainda mais nas próximas semanas, afetando não só a economia local, mas também a dinâmica política da França.

Conclusão: A batalha política e econômica continua

A situação na França está longe de ser resolvida, e as manifestações continuam a ganhar força. Os agricultores franceses não estão apenas protestando contra um acordo de livre comércio, mas também expressando um descontentamento mais profundo com a postura do governo francês em relação às questões que afetam diretamente o setor agrícola. O futuro do acordo UE-Mercosul dependerá, em grande parte, de como essas questões serão tratadas nos próximos meses, com um olhar atento tanto dos agricultores quanto das autoridades políticas em Bruxelas e Paris. A batalha política e econômica está apenas começando, e o desenrolar dos eventos poderá ter impactos significativos tanto para a França quanto para a União Europeia como um todo.

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Bruno Rigacci

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