Policial que teria lavado fortuna para o PCC é solto por decisão da Justiça Federal

O policial civil Cyllas Salerno Elia Junior, preso em 26 de novembro de 2024 durante a Operação Tai-Pan, foi solto após decisão da Justiça Federal. Ele estava sendo investigado por seu suposto envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil.

A Operação Tai-Pan, conduzida pela Polícia Federal, tem como alvo crimes financeiros de grande escala, envolvendo movimentações ilícitas de mais de R$ 6 bilhões nos últimos cinco anos. A investigação, que teve início em 2022, desvendou um sofisticado sistema bancário paralelo e ilegal, que operava tanto no Brasil quanto em diversos países ao redor do mundo, incluindo Estados Unidos, Canadá, Panamá, Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai, Peru, Holanda, Inglaterra, Itália, Turquia, Dubai, Hong Kong e China. O fluxo de recursos ilegais tinha, segundo a investigação, como destino principal o território chinês e a região de Hong Kong.

Envolvimento de Cyllas Salerno no Esquema

Cyllas Salerno Elia Junior, que atuava no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), foi mencionado por Vinicius Gritzbach em depoimento à Corregedoria da Polícia Civil. Gritzbach, importante figura no esquema e envolvido em atividades criminosas com a facção PCC, afirmou que Cyllas seria sócio de Anselmo Santa Fausta (conhecido como Cara Preta) e de Rafael Maeda Pires (o Japa), ambos apontados como líderes da facção.

De acordo com Gritzbach, o trio seria responsável pelo funcionamento do 2Go Bank, uma instituição financeira paralela usada pelo PCC para movimentar recursos ilícitos, principalmente no mercado de criptomoedas. O depoimento de Gritzbach foi feito em 31 de outubro de 2024, pouco antes de sua morte, que ocorreu em 8 de novembro daquele ano, quando ele foi assassinado a tiros ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

A Morte de Gritzbach e o Contexto da Investigação

Vinicius Gritzbach havia sido jurado de morte pelo PCC após ser acusado de desviar uma parte de um investimento milionário da facção em criptomoedas, golpeando Cara Preta. O empresário, que era considerado um aliado próximo da facção, foi executado a tiros em dezembro de 2021, no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo, junto com seu segurança Antônio Corona Neto, conhecido como Sem Sangue. A execução de Cara Preta gerou uma série de eventos violentos dentro da facção, com Gritzbach sendo apontado como mandante do crime.

Japa, outro parceiro de Cyllas no 2Go Bank, também foi encontrado morto em 5 de maio de 2023, com um tiro na cabeça, no subsolo de um prédio no Tatuapé. A morte de Japa, assim como a de Cara Preta, está diretamente ligada aos conflitos internos dentro do PCC, envolvendo disputas por dinheiro e poder.

Sistema de Lavagem de Dinheiro e Ações Internacionais

A Operação Tai-Pan revelou que o esquema de lavagem de dinheiro operava por meio de uma rede global de empresas fictícias, bancos clandestinos e operações de criptomoedas. Com o uso de plataformas digitais, a facção conseguia movimentar bilhões de reais e transferir grandes somas para o exterior, muitas vezes por meio de transferências para contas em Hong Kong e na China, locais conhecidos por sua opacidade financeira.

As investigações também indicaram que o PCC utilizava esse sistema para lavar o dinheiro proveniente do tráfico de drogas, extorsões e outros crimes. Parte desse dinheiro era reinvestido em negócios legítimos e também em ativos financeiros como criptomoedas, imóveis e até empresas no Brasil e no exterior.

A Liberação de Cyllas Salerno

Apesar das evidências apontando para a participação de Cyllas Salerno no esquema de lavagem de dinheiro do PCC, ele foi solto após uma decisão da Justiça Federal, que avaliou as circunstâncias do caso e concedeu sua liberdade. A decisão gerou uma onda de questionamentos sobre a gravidade dos crimes cometidos e a possibilidade de que Salerno pudesse continuar atuando em atividades criminosas, dada sua experiência e posição dentro da Polícia Civil.

A soltura de Cyllas Salerno foi vista com cautela pelas autoridades e pela opinião pública, que tem acompanhado atentamente os desdobramentos da Operação Tai-Pan. A investigação continua em curso, e novas prisões e quebras de sigilo bancário e fiscal são aguardadas para identificar outros envolvidos no esquema.

Conclusão

O caso de Cyllas Salerno Elia Junior é mais um capítulo da crescente atuação do PCC no Brasil, utilizando-se de sofisticados métodos de lavagem de dinheiro e da globalização para movimentar milhões de reais através de um sistema financeiro paralelo. Embora tenha sido solto por uma decisão judicial, o envolvimento do policial civil e de outros membros da facção com operações financeiras ilícitas coloca em evidência a complexidade e a extensão das atividades criminosas do PCC, que transcendem as fronteiras do Brasil e envolvem uma rede internacional de corrupção e lavagem de dinheiro.

O desfecho dessa investigação, com o desmantelamento de redes de lavagem de dinheiro e a responsabilização dos envolvidos, será um teste importante para a Justiça e para as autoridades brasileiras no combate ao crime organizado e à corrupção.

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Bruno Rigacci

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