Assessor de ministro do STJ que recebia R$ 15 mil por mês, comprou rolex por R$ 106 mil à vista e em dinheiro vivo
As investigações sobre um esquema de venda de sentenças judiciais no Superior Tribunal de Justiça (STJ) continuam a revelar detalhes escabrosos sobre a corrupção que permeia o Poder Judiciário no Brasil. A Polícia Federal (PF) obteve documentos que indicam a compra de itens de luxo, incluindo um relógio da renomada marca Rolex, pagos em dinheiro vivo, por Rodrigo Falcão, assessor do ministro Og Fernandes do STJ, um dos principais alvos da investigação.
Rodrigo Falcão, que ocupava o cargo de chefe de gabinete do ministro, foi alvo de busca e apreensão em novembro deste ano, sendo afastado de suas funções por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), mais especificamente pelo ministro Cristiano Zanin. Durante as investigações, a PF encontrou indícios de um padrão de vida incompatível com seus rendimentos oficiais, que somavam cerca de R$ 15 mil mensais, além de um valor variável referente a indenizações.
Em uma das operações da PF, realizada em Brasília e no Recife, os investigadores encontraram três caixas da marca Rolex, com recibos de compra, mas sem os relógios. Entre os documentos apreendidos, destaca-se um cupom fiscal referente à compra de um relógio avaliado em R$ 106 mil, pago em dinheiro vivo. Outro item de luxo encontrado foi um relógio da mesma marca, no valor de R$ 160 mil, com informações parciais sobre a forma de pagamento. Além dos relógios, a PF localizou pingentes da Kate Spade New York e uma caneta Mont Blanc, itens avaliados em cerca de R$ 2.000 a R$ 3.000 cada.
De acordo com a PF, a descoberta desses itens, junto a documentos que comprovam o pagamento em dinheiro, levanta sérias suspeitas sobre a origem do dinheiro de Falcão, que aparentemente mantinha um padrão de vida muito superior ao que seria esperado de seu salário. “A incongruência entre o padrão de vida do investigado e seus rendimentos lícitos corrobora as hipóteses criminais levantadas até o momento”, apontou a Polícia Federal em relatório.
A investigação de Falcão se intensificou após seu nome ser citado em conversas com o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, que afirmou ter acesso a documentos sigilosos de processos envolvendo o ministro Og Fernandes. O lobista indicou ainda que Rodrigo Falcão poderia influenciar decisões do gabinete de Fernandes, dando a entender a existência de tráfico de influência no STJ.
Os extratos bancários de Falcão também foram analisados pela PF, que identificou sete transferências mensais feitas pelo ministro Og Fernandes ao assessor, totalizando R$ 140 mil entre abril e outubro deste ano. Cada transferência, de aproximadamente R$ 20 mil, foi justificada por Fernandes como pagamento de despesas pessoais, como contas de luz, telefone, condomínio e salários de funcionários. O ministro alegou que Falcão enviava mensalmente uma tabela detalhada com os valores das despesas, e que ele transferia os recursos para garantir o pagamento.
Em sua defesa, Og Fernandes negou qualquer ilegalidade nos pagamentos, explicando que os repasses eram uma forma de ajudar o assessor com suas despesas. Ele também se comprometeu a fornecer à PF os documentos necessários, incluindo as mensagens no celular de Falcão, para esclarecer as transferências financeiras.
Enquanto as investigações seguem, o caso expõe a fragilidade das instituições jurídicas e questiona a transparência e a ética de figuras poderosas no sistema judiciário brasileiro. O avanço das apurações promete novas revelações sobre o esquema de corrupção no STJ e a responsabilidade dos envolvidos.