A pergunta do delegado Fábio Shor e a resposta de Mauro Cid que atingiu Braga Netto em cheio

Em 11 de março de 2024, durante depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília, Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, revelou detalhes de uma reunião importante ocorrida na casa do general Braga Netto. De acordo com a delação premiada de Cid, a reunião discutiu temas como as manifestações no Brasil e um possível pedido de intervenção militar. Cid afirmou, ainda, que não se recordava com precisão dos eventos, mas mencionou que precisou sair mais cedo do encontro, uma vez que teria de retornar ao Palácio do Alvorada, residência oficial do presidente da República.

No segundo depoimento, ocorrido em 21 de novembro de 2024, em audiência no Supremo Tribunal Federal (STF), Cid trouxe à tona novas revelações. Ele mencionou que alguns dias após a reunião de 12 de novembro, o coronel de Oliveira se encontrou novamente com ele e o general Braga Netto, desta vez no Palácio do Planalto ou da Alvorada. Nesse encontro, segundo Cid, Braga Netto teria entregue uma sacola de vinho contendo dinheiro, que ele afirmou ter sido obtido junto a membros do agronegócio. Cid ainda destacou que o dinheiro foi solicitado para financiar uma operação, embora não tenha especificado detalhes sobre qual operação seria essa.

Este depoimento só foi possível após a Polícia Federal apresentar um relatório indicando possíveis omissões nas declarações anteriores de Cid. Investigadores descobriram mensagens apagadas de seu celular, o que levou a questionamentos sobre a veracidade da colaboração. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, reafirmou a validade do acordo de delação, embora tenha alertado que qualquer mentira ou omissão poderia resultar na anulação dos benefícios concedidos a Cid, como a redução de pena.

Em 5 de dezembro de 2024, o ex-ajudante de ordens foi novamente confrontado pela PF, desta vez com documentos apreendidos durante as investigações. Durante o depoimento, Cid revelou que o general Braga Netto e alguns de seus intermediários haviam abordado seus pais após sua soltura. Ele sugeriu que essas tentativas de aproximação visavam obter informações sobre o conteúdo de sua delação. Cid alegou que, como não podia revelar os detalhes, desviava das conversas, sem confirmar ou negar as intenções do general.

Foi nesse momento que o delegado Fábio Shor, da Polícia Federal, fez uma pergunta crucial que culminou na prisão de Braga Netto: “O senhor confirma que ele tentou obter informações do acordo de colaboração, do general Braga Netto?” Cid respondeu afirmativamente, confirmando o envolvimento do general na tentativa de acessar detalhes sobre sua colaboração com a justiça.

A prisão de Braga Netto coloca em evidência uma narrativa que sugere uma tentativa do “sistema” de envolver o ex-presidente Jair Bolsonaro no caso. A movimentação das autoridades parece indicar um esforço claro para implicar Bolsonaro de alguma forma, independente dos desdobramentos da investigação. A prisão do ex-ministro da Defesa é, portanto, um capítulo importante dessa trama, e os próximos passos da justiça serão cruciais para definir os rumos do processo e as implicações para os envolvidos.

Com as investigações em curso, a questão sobre o real papel de Bolsonaro e seus aliados continua a ser um dos maiores pontos de interrogação no cenário político brasileiro. A delação de Mauro Cid e os depoimentos subsequentes podem ser determinantes para esclarecer o envolvimento de figuras chave no governo Bolsonaro e suas possíveis implicações no contexto das manifestações e outros eventos políticos do país.

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Bruno Rigacci

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