Além de Braga Netto, outro militar também é alvo da PF

A operação da Polícia Federal (PF) realizada na manhã deste sábado (14) continua a trazer desdobramentos importantes no âmbito das investigações sobre o suposto golpe de Estado que teria sido articulado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro de 2023. Entre os alvos da operação, o coronel Flávio Peregrino, assessor do general da reserva Walter Braga Netto tanto durante o governo de Jair Bolsonaro quanto no Partido Liberal (PL), teve sua residência em Brasília alvo de mandados de busca e apreensão. No entanto, ao contrário de Braga Netto, que foi preso em sua residência no Rio de Janeiro, Peregrino não foi detido.

Flávio Peregrino é uma figura de destaque dentro das Forças Armadas e no PL, partido do ex-presidente Bolsonaro. Ele havia sido citado no relatório final da Polícia Federal sobre o inquérito que investiga a tentativa de golpe. A PF afirma ter encontrado documentos relevantes na mesa de Peregrino, na sede do PL, que indicariam tentativas de obter informações sobre a colaboração premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Documentos Encontrados Revelam Tentativa de Obstrução

Os documentos encontrados pela PF na sede do PL, conforme descrito no relatório, consistem em uma lista de “perguntas e respostas” que aparentemente se referem à delação de Mauro Cid. Cid, que foi preso e se tornou colaborador da Justiça, tem informações cruciais sobre os bastidores da tentativa de golpe de 8 de janeiro e as ações de membros do governo Bolsonaro e aliados.

O conteúdo desses documentos sugere que as perguntas e respostas foram preparadas para, possivelmente, guiar as declarações de Cid ou obter informações sobre a colaboração dele com a PF. “O conteúdo indica se tratar de respostas dadas por Mauro Cid a questionamentos feitos por alguém, possivelmente relacionado ao general Braga Netto, que aparenta preocupação sobre temas identificados pela Polícia Federal relacionados à tentativa de golpe de Estado, evidenciando que o grupo criminoso praticou atos concretos para ter acesso ao conteúdo do Acordo de colaboração firmado por Mauro César Cid com a Polícia Federal”, diz o relatório da PF.

Esse novo desdobramento reforça a suspeita de que, além de Braga Netto, outros aliados de Bolsonaro e figuras próximas ao ex-presidente estariam tentando manipular ou obstruir as investigações sobre o golpe de Estado, que envolvem tentativas de fraudar o processo democrático e minar a posse de Lula.

A Prisão de Braga Netto e Suas Implicações

A prisão de Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro e um dos principais aliados do ex-presidente, veio a público no mesmo dia da operação contra Peregrino. Ela gerou grande repercussão e alimentou as teorias sobre uma suposta perseguição política a Bolsonaro e seus aliados. Alguns defensores de Bolsonaro, como o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), afirmaram que a prisão de Braga Netto é parte de uma estratégia para envolver a figura do ex-presidente nas investigações e enfraquecer sua base de apoio.

Mourão, que foi vice-presidente de Bolsonaro, criticou a condução das investigações, sugerindo que as prisões de figuras chave do bolsonarismo são movidas por um “sistema” que tentaria de qualquer forma incriminar o ex-presidente. Para ele, o objetivo é criar narrativas que liguem Bolsonaro aos eventos de 8 de janeiro, quando manifestantes invadiram os prédios dos Três Poderes em Brasília.

Peregrino e as Conexões com Brasília

Embora Flávio Peregrino não tenha sido preso, sua participação nas investigações sobre o golpe e as tentativas de obstrução da Justiça indicam que ele tem um papel central na trama que envolve figuras poderosas em Brasília. O coronel tem uma relação estreita com o ex-presidente Jair Bolsonaro e com outros nomes influentes do PL, o que amplia a complexidade do caso. As investigações da Polícia Federal estão cada vez mais aprofundando as conexões entre militares, aliados políticos e a tentativa de desestabilização do governo eleito.

A prisão de figuras como Braga Netto e as buscas em endereços de seus assessores, como Flávio Peregrino, mostram que a PF segue empenhada em desmantelar o que considera um esquema de obstrução de Justiça e fraudes no processo eleitoral e no golpe de Estado. A relação entre militares e políticos tem sido uma linha de investigação cada vez mais visível, especialmente no contexto de 8 de janeiro, quando a participação de setores das Forças Armadas foi questionada.

Repercussões e Perspectivas Futuras

A prisão de Braga Netto e as buscas realizadas em Brasília aumentam as tensões no cenário político, principalmente entre aliados e opositores de Bolsonaro. Se confirmadas as acusações de envolvimento em tentativas de manipulação de investigações, o caso pode resultar em novas prisões e complicações políticas para os envolvidos. A suspeita é de que o grupo próximo a Bolsonaro tenha tentado, de forma organizada, dificultar a apuração dos fatos e proteger figuras chave do governo anterior.

Por enquanto, as investigações continuam, e as repercussões políticas se espalham não apenas pela Bahia, onde figuras ligadas a Bolsonaro ainda tentam se recuperar da prisão de José Marcos de Moura, o “rei do lixo”, mas também por Brasília, onde o impacto das prisões de militares e assessores pode ter um efeito duradouro sobre o futuro político do ex-presidente e de seu grupo político.

O caso segue sendo monitorado de perto, e novas informações devem surgir nas próximas semanas à medida que a Polícia Federal aprofunda suas investigações sobre o suposto golpe de Estado e as conexões políticas que ainda precisam ser totalmente esclarecidas.

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Bruno Rigacci

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