PF age na ‘surdina’ e indicia mais três em inquérito que mira Bolsonaro
A Polícia Federal (PF) indiciou, nesta quarta-feira (11), mais três pessoas no inquérito que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Com esses novos indiciamentos, o número de pessoas investigadas sobe para 40, incluindo o próprio Bolsonaro, e figuras-chave de seu governo, como os ex-ministros Braga Netto e Augusto Heleno. A investigação, que já se arrasta por meses, levanta sérias questões sobre um possível plano golpista para minar a democracia e os pilares do Estado democrático de direito, especialmente após os tumultuados episódios que marcaram o fim de 2022 e o início de 2023.
Os três novos indiciados são Aparecido Andrade Portela, militar da reserva do Exército e suplente da senadora Tereza Cristina (PL-MS); Reginaldo Vieira de Abreu, ex-chefe de Gabinete do general Mario Fernandes, também do Exército, e acusado de atuar no planejamento do golpe; e Rodrigo Bezerra de Azevedo, outro militar do Exército, acusado de monitorar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Esses nomes foram adicionados à lista de investigados que já inclui pessoas de alto escalão, como o ex-presidente Bolsonaro, e outros militares envolvidos no governo anterior.
O que torna esses indiciamentos particularmente sensíveis é o contexto em que eles se inserem: a tentativa de desestabilizar as instituições democráticas e de enfraquecer as estruturas do poder executivo e judiciário. A investigação, que agora envolve figuras tão próximas ao núcleo do governo Bolsonaro, sugere que o plano para subverter a ordem constitucional incluía até mesmo um esquema de assassinato contra figuras como o ministro do STF, Alexandre de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o vice-presidente Geraldo Alckmin.
A Investigação e o Risco de Envolvimento de Bolsonaro
O inquérito está sob o comando do delegado Fábio Shor, que tem sido alvo de duras críticas de aliados de Bolsonaro, parlamentares e até do próprio ex-presidente. A acusação de que o “sistema” está orquestrando um processo para incriminar Bolsonaro de qualquer forma parece ser um discurso cada vez mais presente na retórica de seus defensores. Para eles, a investigação estaria sendo conduzida com um viés político, tentando forçar uma narrativa que vise a prisão do ex-presidente, independentemente das evidências concretas.
Este clima de polarização e desconfiança em torno da investigação também é alimentado pelo relatório da Polícia Federal enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, que é relator do caso. Moraes, que já foi alvo de constantes ataques por parte de Bolsonaro e seus apoiadores, continua a desempenhar um papel central no andamento do inquérito. A possibilidade de uma retaliação política contra o ex-presidente, alegam seus aliados, pode estar guiando as ações da PF, o que aumenta ainda mais a tensão entre as partes.
Agravamento da Crise Política: A Polarização e o Golpe
A investigação sobre o suposto golpe de Estado durante o governo Bolsonaro não é apenas um episódio de uma guerra judicial entre o ex-presidente e as autoridades atuais. Ela simboliza um agravamento da crise política e institucional que o Brasil vem enfrentando desde as eleições de 2022. Os indiciamentos refletem um momento de extrema polarização, onde qualquer movimento, por mais legítimo que seja, acaba sendo interpretado dentro de uma ótica de disputa política e de poder.
O fato de uma operação envolvendo tantos ex-integrantes de um governo anterior tenha chegado ao ponto de questionar até mesmo a integridade da democracia e das instituições brasileiras, como é o caso da proposta de assassinato de ministros do STF e do presidente, coloca o país em um terreno instável. Mesmo com as graves acusações, muitos setores da sociedade, especialmente apoiadores de Bolsonaro, veem a investigação com ceticismo, acreditando que ela possa estar sendo conduzida com intenções de vingança política.
O Papel das Forças Armadas e os Riscos para a Democracia
Outro ponto importante da investigação é o envolvimento de militares, como o próprio Aparecido Andrade Portela, Reginaldo Vieira de Abreu e Rodrigo Bezerra de Azevedo, todos com forte vínculo com as Forças Armadas. A presença de militares em um suposto plano golpista levanta questionamentos sobre o papel das Forças Armadas no contexto da democracia brasileira. Se, de fato, houve tentativas de minar a ordem constitucional, isso coloca em risco a própria estabilidade das instituições militares, que são vistas por muitos como um pilar fundamental da democracia.
Em um momento de crescente polarização, os militares se tornam peças-chave nesse tabuleiro, com suas ações sendo observadas com desconfiança por muitos cidadãos que temem que a história de intervenções militares no Brasil possa se repetir. A investigação, portanto, não apenas apura uma tentativa de golpe de Estado, mas também coloca em xeque a postura das Forças Armadas em relação ao regime democrático do país.
Conclusão: A Investigação e Seus Efeitos
Com 40 indiciados e acusações graves que envolvem figuras de alto escalão do governo anterior, o inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado continua a se expandir, ganhando mais complexidade a cada novo passo. Embora a tese de que o “sistema” está tentando incriminar Bolsonaro de qualquer forma seja defendida por seus aliados, a investigação ainda conta com elementos que indicam uma trama muito mais profunda de desestabilização do Estado Democrático de Direito.
A situação política no Brasil se agrava à medida que esses eventos se desdobram, dividindo ainda mais a opinião pública e tornando difícil prever as consequências políticas desse processo. Para muitos, o que está em jogo não é apenas o futuro de Jair Bolsonaro, mas a própria sobrevivência das instituições democráticas do país, que continuam a ser testadas em meio à crise e à polarização cada vez mais intensas.