Gleisi abre o jogo e antevê possibilidade da “morte do PT”

Em entrevista à O Globo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, discutiu o futuro do partido e as possíveis movimentações que podem moldar a política brasileira nos próximos anos. De forma clara e enfática, Gleisi abordou as pressões internas e externas sobre o PT, especialmente a necessidade de encontrar um equilíbrio entre sua base histórica e as exigências do cenário político atual, que inclui uma possível aproximação com o centro.

A Cautela do PT Frente ao Centro

Gleisi foi direta ao afirmar que ir para o centro pode ser a morte do PT. Para a presidente do partido, a essência do PT nunca deve ser perdida, e isso significa não abrir mão dos princípios de esquerda que o partido representa. “O PT não serve para perpetuar as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas e excludentes que marcam o país. É um partido de esquerda e assim deve continuar”, declarou Gleisi, reforçando que embora o PT esteja aberto ao diálogo e a alianças, ele não deve perder sua identidade. Para ela, a aproximação com o centro, muitas vezes sugerida como uma estratégia para garantir governabilidade, não é o caminho ideal para o partido.

Ela enfatizou que, se o PT cedesse à pressão para adotar uma agenda mais centrada, romperia com sua base social histórica, o que significaria uma verdadeira perda de identidade. A crítica a certas medidas propostas pelos setores econômicos, como a retirada de direitos sociais e mudanças na política de salário mínimo e aposentadorias, deixa claro que o partido se manterá firme em sua linha de defesa dos direitos dos trabalhadores e das camadas mais vulneráveis da sociedade.

A Questão da Sucessão no PT

Durante a entrevista, Gleisi também abordou a questão da sucessão interna no PT. Embora tenha sido perguntada sobre o apoio a algum nome para sua sucessão, ela foi cautelosa, afirmando que o partido está no processo de discutir qual será a melhor liderança para dar continuidade ao trabalho de fortalecimento da legenda. O nome de Edinho Silva, aliado de Lula e favorito do presidente para assumir a presidência do PT, foi citado como alguém com maior diálogo com o centro. No entanto, Gleisi não endossou a ideia de que isso representaria uma mudança estratégica no partido, pois, segundo ela, a principal tarefa do PT será sempre manter-se fiel à sua base ideológica.

Lula e a Possibilidade de Candidatura em 2026

Outro ponto importante da entrevista foi o questionamento sobre uma possível candidatura de Lula em 2026. Gleisi demonstrou convicção de que Lula é fundamental para a continuidade do projeto político do PT, reafirmando que o ex-presidente não tem rival à altura no campo político brasileiro para disputar as eleições presidenciais de 2026.

Ao ser comparado com Joe Biden, cuja idade foi um fator questionado durante a última eleição nos Estados Unidos, Gleisi foi enfática: “O Lula está bem, disposto, é uma pessoa ativa.” Para ela, a idade de Lula não será um obstáculo para sua participação em futuras disputas eleitorais.

O Cenário Econômico e o Governo Lula

Gleisi também falou sobre a avaliação do governo Lula, destacando que o PT precisa de uma ofensiva maior de comunicação para mostrar à população os avanços no campo econômico, como a redução do desemprego e o crescimento do PIB. Segundo ela, o governo tem feito progressos significativos, mas a percepção popular ainda precisa ser trabalhada de forma mais eficaz.

Ela também abordou questões como a postura do Banco Central, especialmente em relação à alta do dólar, e criticou a forma como a administração de Campos Neto tem lidado com a política monetária, sugerindo que a atual gestão do BC tem se mostrado muito conservadora em suas intervenções.

PT e a Reforma Ministerial

Com relação à reforma ministerial, Gleisi afirmou que, caso o presidente Lula considere necessário, ele tem o poder de mexer na composição do governo. No entanto, ela não deu detalhes sobre possíveis mudanças, apenas destacou que o governo deve priorizar resultados concretos para a população.

A Luta Contra a Extrema Direita

Por fim, Gleisi reafirmou que a principal oposição ao PT continua sendo a extrema direita, com destaque para Jair Bolsonaro, que, embora inelegível, ainda representa uma grande liderança para seus seguidores. Ela declarou que o PT e seus aliados devem continuar combatendo as forças bolsonaristas, seja através do fortalecimento das instituições democráticas ou da mobilização política.

Conclusão

A entrevista de Gleisi Hoffmann revela um PT determinado a manter sua identidade de esquerda, sem ceder às pressões para se aproximar do centro, e com um foco na defesa dos direitos sociais e das políticas públicas que beneficiam a população mais vulnerável. Ao mesmo tempo, ela mostrou que o partido está aberto ao diálogo e à ampliação de alianças, principalmente pensando nas eleições de 2026, nas quais o nome de Lula ainda deve ser central.

Além disso, a liderança de Gleisi no PT parece estar comprometida em garantir que o governo Lula tenha suporte político e possa comunicar de forma mais eficaz seus avanços. No entanto, a unidade interna do partido, bem como a manutenção de sua base histórica, continuarão sendo desafios importantes à medida que o cenário político brasileiro se desenha nos próximos anos.

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Bruno Rigacci

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