Os advogados dos réus argumentam que Moraes não deveria atuar nessas causas por duas razões fundamentais: impedimento e suspeição. No caso do impedimento, os defensores apontam que o ministro tem interesses pessoais, alegando que ele teria sido vítima dos atos de 8 de janeiro e até sofreu ameaças à sua vida. Isso, segundo a defesa, indicaria uma parcialidade no julgamento, o que violaria o princípio da imparcialidade do juiz. Além disso, mencionam o uso de termos como “morte ao Xandão” em buscas feitas durante as investigações, o que, para os advogados, reforça a ideia de que Moraes está envolvido de forma pessoal no caso.
Já no caso da suspeição, a defesa sustenta que Moraes teria orientado ações do governo e do Ministério Público durante os eventos de 8 de janeiro, especialmente no que diz respeito à interação com autoridades como Flávio Dino, então Ministro da Justiça, e Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República. Para os advogados, isso comprometeria a imparcialidade do ministro, pois ele teria, de alguma forma, tomado parte no processo político que envolveu os acontecimentos daquele dia.
O Contexto Político
Esses pedidos ocorrem em um cenário tenso, especialmente com o ex-presidente Jair Bolsonaro também buscando afastar Moraes da condução de processos relacionados à suposta tentativa de golpe de Estado de 2022. O julgamento desse recurso começou na sexta-feira (6) e deve ser encerrado em 13 de dezembro. Nesse contexto, há uma crescente narrativa política de que o STF, em especial o ministro Alexandre de Moraes, está agindo de maneira parcial e tentando atingir politicamente o ex-presidente Bolsonaro.
O clima de polarização política em torno da condução desses casos alimenta a percepção de que o STF está buscando, de qualquer maneira, responsabilizar Bolsonaro pelos eventos de 8 de janeiro, e que Moraes tem se tornado uma figura central nesse processo. A crítica a ele vai além das questões jurídicas, tocando em aspectos institucionais e políticos, o que, por sua vez, torna a disputa judicial ainda mais delicada.
O presidente Luís Roberto Barroso, que é o responsável por analisar os pedidos de afastamento, também exerce um papel de destaque nesse cenário, já que sua decisão pode influenciar a condução de todo o processo.
O Impeachment de Bolsonaro e os Desdobramentos
No cenário político, as disputas jurídicas, como a solicitação para afastamento de Moraes, acabam se entrelaçando com as tentativas de impeachment e processos de responsabilização política contra Bolsonaro. Para alguns, esse é mais um capítulo de uma tentativa de enfraquecer Bolsonaro politicamente, associando-o aos eventos de 8 de janeiro de 2023 de maneira permanente.
Há, sem dúvida, um jogo político intenso acontecendo, e o desenrolar desses pedidos contra Moraes e outros processos no STF tem o potencial de afetar não apenas o futuro jurídico de Bolsonaro, mas também o cenário político mais amplo no Brasil.
Em resumo, o que se observa é um ambiente jurídico, político e social altamente carregado de tensões, com a disputa sobre a condução dos processos envolvendo os atos de 8 de janeiro se estendendo para um embate sobre imparcialidade judicial, neutralidade do STF, e os limites da atuação política de figuras chave dentro da corte. O que está em jogo é muito mais do que a responsabilidade individual por esses atos, mas o próprio equilíbrio de forças políticas no Brasil.