Com Brasil ardendo em chamas, o que Lula discursará na ONU?

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chega a Nova Iorque neste sábado (21) para participar da 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Além de discursar no evento, Lula também estará presente em reuniões sobre a reforma de instituições multilaterais e a defesa da democracia. No entanto, um dos temas centrais de sua visita será a questão ambiental, em meio a um Brasil assolado por queimadas e secas históricas, problemas que o presidente levará ao palco internacional para cobrar ações e financiamento de países mais ricos.

Desafios Ambientais e Pressão Internacional

O contexto ambiental do Brasil será um dos pontos mais sensíveis na agenda de Lula. O país está enfrentando extensas queimadas e uma seca histórica, e o presidente pretende responsabilizar em parte a crise climática global. Essa abordagem não é nova em seus discursos internacionais, mas enfrenta um novo cenário: países que antes apoiavam suas propostas de preservação ambiental estão agora de olho na ineficácia do governo no combate às queimadas.

A União Europeia já anunciou que, a partir de 2025, irá proibir a importação de produtos vindos de regiões com desmatamento ilegal. Embora o Brasil tenha tentado barrar essa medida, a proposta avançou, aumentando a pressão sobre o país e sobre o governo Lula, que agora precisará demonstrar resultados concretos na preservação do meio ambiente.

Suspeitas de Incêndios Criminosos

Outro fator que pode enfraquecer o discurso ambiental de Lula na ONU é a suspeita de que os incêndios no Brasil sejam criminosos. Isso não apenas complica a narrativa de atribuir a crise unicamente às mudanças climáticas, mas também dificulta a adesão de outros países às proposições ambientais que o presidente apresentará. A falta de um plano eficaz para lidar com esses incêndios, além das críticas da oposição e de governadores de estados afetados, pode ser um obstáculo para Lula conquistar o apoio necessário.

Crítica ao Descumprimento de Promessas Financeiras

Outro ponto que o presidente brasileiro levará ao palco da ONU é o descumprimento das promessas financeiras feitas pelos países desenvolvidos para ajudar as nações em desenvolvimento a enfrentarem a crise climática. Lula deverá cobrar o repasse de 100 bilhões de dólares, que foram prometidos, mas ainda não foram transferidos para iniciativas ambientais no Brasil.

Em entrevistas recentes, o secretário de assuntos multilaterais políticos do Itamaraty, Carlos Cozendey, adiantou o teor da fala de Lula na Assembleia. Cozendey ressaltou que o presidente brasileiro destacará os eventos climáticos extremos como causa principal das dificuldades enfrentadas pelo Brasil, e argumentará que esses eventos são reflexo das transformações climáticas globais.

Lula e a Reforma das Instituições Multilaterais

Além da pauta ambiental, Lula também usará sua presença na ONU para defender a reforma das instituições multilaterais, como o próprio sistema das Nações Unidas. O presidente brasileiro acredita que essas reformas são necessárias para refletir melhor o mundo atual, onde o equilíbrio de poder mudou consideravelmente desde a criação da ONU. A inclusão de novas vozes, especialmente dos países em desenvolvimento, é uma das bandeiras que Lula carrega, e ele usará a Assembleia para reforçar essa mensagem.

O Brasil, ao longo de anos, tem pleiteado um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, uma reivindicação que Lula voltou a colocar em pauta em seu atual mandato. Ele argumenta que o formato atual da ONU é ultrapassado e não reflete as realidades políticas e econômicas do século 21.

O Papel do Brasil na Defesa da Democracia

Outro ponto central da agenda de Lula será a defesa da democracia. Em um momento em que várias democracias ao redor do mundo enfrentam ameaças internas e externas, o presidente brasileiro deverá destacar o papel do Brasil como um defensor da liberdade e da justiça social. Essa defesa será ainda mais enfática dado o histórico recente do país, que passou por uma série de turbulências políticas e institucionais nos últimos anos.

Lula deverá se posicionar como um líder que busca unidade nacional, propondo soluções de longo prazo para questões estruturais que afetam não só o Brasil, mas o mundo em geral. Ele pode usar sua trajetória política e os anos de liderança para se apresentar como um mediador em debates globais, principalmente nas questões de equidade social e clima.

Desafios Internos e Críticas da Oposição

Porém, enquanto Lula busca fortalecer sua imagem no cenário internacional, no Brasil, ele enfrenta críticas crescentes sobre a falta de planejamento de seu governo no combate às queimadas e à seca. Governadores de estados afetados pelas queimadas, muitos deles da oposição, têm acusado o governo federal de não agir de maneira efetiva para conter os incêndios, o que enfraquece o discurso ambientalista que Lula tentará promover na ONU.

Apesar disso, o presidente está determinado a usar o palco global para chamar a atenção para a urgência das mudanças climáticas e para a necessidade de uma ação conjunta internacional. A ONU, nesse sentido, será o principal fórum onde Lula procurará fortalecer alianças e pressionar por reformas multilaterais que possam, de acordo com ele, beneficiar o Brasil e outros países em desenvolvimento.

A participação de Lula na 79ª Assembleia Geral da ONU é uma oportunidade estratégica para o presidente brasileiro reafirmar seu papel de liderança global em questões ambientais e políticas. No entanto, os desafios internos que ele enfrenta, como as queimadas e a seca, além da falta de apoio de alguns países mais ricos, podem complicar sua missão de consolidar essas propostas no cenário internacional.

Com um discurso focado em clima, reformas institucionais e a defesa da democracia, Lula tentará reafirmar a posição do Brasil como um ator global relevante, mas a recepção dessas propostas dependerá da habilidade do presidente em navegar pelas críticas e pressões externas e internas.

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Bruno Rigacci

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