Nise sobre CPI: “Nunca imaginei passar por situação parecida”

Em carta enviada por sua assessoria de imprensa a veículos de comunicação neste domingo (20), a imunologista e oncologista Nise Yamaguchi falou sobre a experiência que viveu durante seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no último dia 1° de junho, classificado por ela como “humilhação”.

No texto, a médica também explicou os motivos que a fizeram ingressar com ação no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) contra os senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Omar Aziz (PSD-AM), cujos comportamentos motivaram pedidos de indenização por danos morais por parte de Yamaguchi.

A imunologista inicia a carta dizendo que o “desrespeito e a humilhação” com que foi tratada durante a sessão do último dia 1° foi um fato “notório” e de “conhecimento nacional”. Nise afirmou que, com mais de quatro décadas de profissão, não imaginava viver situação parecida.

– Nunca imaginei passar por situação parecida. É triste perceber que, na Casa do Povo Brasileiro, mesmo após décadas de evolução, ainda se perpetuem comportamentos misóginos. Por diversas vezes, tive minhas falas e raciocínios interrompidos. Ignoraram meus argumentos – destacou a médica.

A médica disse que passou a ser “extremamente vilipendiada” depois de sua participação na CPI, fez questão de destacar que não faz parte de nenhum partido político, e destacou que atuou nos últimos cinco governos “como colaboradora eventual, pelo bem da saúde do Brasil e do mundo”.

Nise encerrou o texto agradecendo o apoio que recebeu de entidades médicas como o Conselho Federal de Medicina, do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, e disse ter optado por entrar com a ação judicial contra os membros da CPI “como uma medida para restaurar minha integridade e a de diversos outros médicos brasileiros”.

Confira abaixo, na íntegra, a carta escrita pela médica:

CARTA ABERTA À IMPRENSA
São notórios e de conhecimento nacional o desrespeito e a humilhação por mim sofridos durante o depoimento prestado à CPI da pandemia no Senado Federal no dia 1º de junho de 2021.

Médica há mais de quatro décadas, nunca imaginei passar por situação parecida. É triste perceber que, na Casa do Povo Brasileiro, mesmo após décadas de evolução, ainda se perpetuem comportamentos misóginos.

Por diversas vezes, tive minhas falas e raciocínios interrompidos. Ignoraram meus argumentos e atribuíram a mim palavras que não pronunciei. Não foi por falta de conhecimento que deixei de reagir, mas, sim, por educação. Não iria alterar a minha essência para atender a nítidos interesses políticos.

A partir daquele momento, passei a ser extremamente vilipendiada nas redes sociais com agressões em tons ameaçadores, o que é muito preocupante para um estado democrático.

Não faço parte de nenhum partido político. Atuei nos últimos cinco governos como colaboradora eventual, pelo bem da saúde do Brasil e do mundo, sendo que entre 2007 e 2011, participei oficialmente do gabinete do Ministério da Saúde. Meus principais trabalhos foram em ações de controle do tabaco, tratamento personalizado e de precisão do câncer, dentre outros afazeres de compliance e governança.

Agradeço o apoio do Conselho Federal de Medicina, do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal e às inúmeras manifestações de apoio de entidades de classe e de apoio à mulher e ao idoso. Atendo os meus queridos pacientes em Brasília e em São Paulo e deles, de suas famílias e dos colegas, tenho recebido um reconfortante apoio.

Na qualidade de mulher e de idosa, optei por entrar com uma ação judicial contra os senadores Omar Aziz e Otto Alencar, como uma medida para restaurar minha integridade e a de diversos outros médicos brasileiros, os quais também foram afetados com os discursos proferidos pelos parlamentares naquele dia.

Todos os valores ganhos com a causa serão revertidos a hospitais que tratem de crianças com câncer.

Fonte: Pleno News

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Bruno Rigacci

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