Moraes sentiu…
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes divulgou, na noite desta semana, uma nova nota oficial para rebater suspeitas de que teria se reunido com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para tratar da venda do Banco Master ao BRB. No comunicado, o magistrado nega categoricamente qualquer discussão sobre a operação e afirma que os encontros tiveram finalidade distinta.
Este é o terceiro esclarecimento público divulgado pelo ministro desde que o caso veio à tona por meio da imprensa. Diferentemente das manifestações anteriores, o novo texto apresenta mais detalhes, incluindo datas, número de reuniões e a negativa explícita de contatos telefônicos entre as partes.
Segundo Moraes, as reuniões ocorreram exclusivamente para tratar dos impactos da aplicação da chamada Lei Magnitsky, legislação norte-americana que prevê sanções financeiras internacionais. O ministro foi incluído na lista de punições em agosto, e sua esposa, a advogada Viviane Barci, passou a sofrer sanções semelhantes semanas depois.
De acordo com a nota, o primeiro encontro com o presidente do Banco Central ocorreu em 14 de agosto, após a sanção aplicada ao próprio ministro. O segundo teria acontecido em 30 de setembro, já após a inclusão de sua esposa na lista. Ambos os encontros, segundo Moraes, foram realizados em seu gabinete, em Brasília.
“Em nenhuma das reuniões foi tratado qualquer assunto ou realizada qualquer pressão referente à aquisição do BRB pelo Banco Master”, afirmou o ministro no comunicado. Ele também declarou que não houve qualquer ligação telefônica entre ele e Galípolo, rebatendo reportagem do jornal O Estado de São Paulo, que apontou a existência de seis chamadas em um único dia.
Outro ponto destacado na nota é a afirmação de que o escritório de advocacia de Viviane Barci “jamais atuou na operação de aquisição BRB–Master perante o Banco Central”, numa tentativa de afastar suspeitas de conflito de interesses.
Reação defensiva e desgaste institucional
Apesar das negativas, a sucessão de comunicados chama atenção no meio jurídico e político. Cada nova nota adiciona informações que não constavam nas anteriores, o que tem ampliado — e não dissipado — o debate público sobre a conduta do ministro.
Em crises institucionais, a forma como as explicações são prestadas pesa tanto quanto o conteúdo. O fato de detalhes relevantes só terem sido apresentados no terceiro comunicado reforça a percepção de que as respostas surgiram de maneira reativa, impulsionadas pela pressão da imprensa e da opinião pública.
Especialistas em ética pública ressaltam que o debate não se limita à existência ou não de ilegalidade comprovada. Ministros do STF estão submetidos a padrões elevados de conduta, que exigem não apenas legalidade formal, mas também cautela, prudência e aparência de imparcialidade.
Nesse contexto, reuniões privadas entre um ministro da Suprema Corte e o presidente do Banco Central, em meio a um cenário sensível envolvendo uma instituição financeira privada e interesses familiares indiretos, levantam questionamentos legítimos.
Silêncio institucional
Até o momento, nenhuma investigação formal foi anunciada por órgãos de controle, tampouco houve manifestação aprofundada de outras instituições da República. O silêncio contrasta com a gravidade das suspeitas e contribui para o desgaste da confiança pública.
Para críticos, o episódio expõe uma assimetria preocupante: enquanto agentes públicos de outros Poderes costumam ser rapidamente pressionados a prestar contas, integrantes do Judiciário, especialmente do STF, parecem blindados por um manto de autocontenção institucional.
Impacto para além do caso
Independentemente do desfecho, o episódio já produz efeitos que extrapolam a figura de Alexandre de Moraes. O Supremo Tribunal Federal, enquanto instituição, vê-se novamente no centro de um debate sobre limites, transparência e responsabilidade.
O caso do Banco Master deixa uma questão aberta: basta negar formalmente para encerrar uma controvérsia institucional ou é preciso submeter a conduta ao mesmo nível de escrutínio exigido de qualquer outro agente público?
Enquanto essa resposta não vier acompanhada de fatos concretos e mecanismos de controle, o desgaste permanecerá — não apenas para um ministro, mas para a credibilidade do sistema democrático como um todo.





