Zohran Mamdani: de imigrante ugandense ao comando de Nova York — a vitória que desafia Trump e redesenha o cenário político dos EUA
Filho de imigrantes e ele próprio imigrante, Zohran Kwame Mamdani, nascido em 18 de outubro de 1991, em Campala, Uganda, tornou-se o novo prefeito de Nova York após vencer as eleições municipais de 2025. Aos 33 anos, ele representa uma mudança profunda no eixo político da maior metrópole dos Estados Unidos, além de inaugurar um raro capítulo para candidatos de origem muçulmana e socialista democrática.
Mamdani chegou aos EUA aos 7 anos e estudou em escolas de elite acadêmica como a Bank Street School for Children e a Bronx High School of Science. Graduou-se em Estudos Africanos no Bowdoin College, no Maine, onde também cofundou o capítulo local da organização estudantil Students for Justice in Palestine (SJP), movimento frequentemente envolvido em debates acalorados sobre geopolítica e direitos humanos.
Identidade e política
Muçulmano praticante, Mamdani é membro do Partido Democrata e dos Socialistas Democráticos da América (DSA). Representa um eleitorado jovem, urbano e digitalizado — parte da Geração Y — que tende a valorizar diversidade cultural, engajamento social e políticas públicas expansivas.
Durante a campanha, apresentou versatilidade linguística ao publicar vídeos em Urdu e em espanhol, estratégia que ampliou seu alcance entre comunidades imigrantes. Casado com a artista síria Rama Duwaji, 27, com quem se conheceu pelo aplicativo de namoro Hinge, Mamdani é filho da famosa cineasta Mira Nair e do influente acadêmico Mahmood Mamdani, professor na Universidade Columbia. Ambos os pais estudaram em Harvard.
Sua campanha foi marcada por forte mobilização de base: conversas porta a porta no Queens, milhares de voluntários e pequenos doadores, impulsionados por um programa de financiamento público que multiplicava por oito contribuições de até US$ 250.
Promessas ousadas e dúvidas sobre viabilidade
As propostas de Mamdani chamaram atenção pelo caráter ambicioso — e controverso. Entre elas:
aluguel acessível regulado pelo município;
transporte gratuito para pessoas de baixa renda;
supermercados subsidiados pelo governo;
creches públicas universais;
salário mínimo municipal de US$ 30 por hora;
e o compromisso de manter “corrupção zero”.
Analistas, porém, alertam que grande parte das medidas enfrenta barreiras legais, fiscais e federais. A cidade vive um cenário de déficit orçamentário crescente e pressões sobre infraestrutura e serviços públicos, o que deve testar o pragmatismo do novo prefeito.
Impacto nacional e reação de Trump
A vitória de Mamdani impõe uma barreira simbólica e política às diretrizes de Donald Trump, reeleito presidente em 2024. Em seu discurso da vitória, o prefeito afirmou:
“Sou jovem, muçulmano e um democrata socialista — e me recuso a pedir desculpas por isso.”
O contraste com Trump é nítido. Em comício realizado em Miami, o presidente classificou Nova York como “fora de controle” e prometeu “retomar a cidade”. A retórica sugere um embate prolongado, com potencial para moldar o cenário das eleições legislativas de 2026.
Para setores do Partido Democrata, Mamdani surge como símbolo de renovação — e possivelmente como um novo polo de resistência às políticas do governo federal.
Eleições estaduais ampliam avanço democrata
A vitória de Mamdani não foi um caso isolado. Os democratas conquistaram outros dois importantes governos estaduais:
Virgínia: Abigail Spanberger derrotou a republicana Winsome Earle-Sears;
Nova Jersey: Mikie Sherrill venceu Jack Ciattarelli, aliado de Trump, e sucederá Phil Murphy.
Os resultados reforçam o enfraquecimento do apoio republicano em regiões-chave e ampliam o embate entre grandes centros urbanos democratas e a Casa Branca republicana.
Um prefeito sob pressão
Para governar Nova York, Zohran Mamdani terá de equilibrar:
pragmatismo fiscal,
pressões ideológicas,
conflitos com Washington,
e expectativas altas de seus apoiadores.
Sua trajetória — de imigrante ugandense a prefeito da cidade mais influente do mundo — marca uma mudança histórica no cenário político americano e prepara o terreno para um confronto direto entre duas visões opostas de país.





