Editorial do Estadão sobre “jornalismo militante” repercute e provoca críticas sobre imparcialidade na imprensa
Publicado em 12 de novembro, o editorial do Estadão intitulado “O perigo do jornalismo militante” gerou intensa repercussão no meio jornalístico e entre analistas de mídia. O texto, apresentado na seção Notas e Informações — tradicional espaço de opinião do jornal — critica práticas consideradas pela publicação como desvios éticos no jornalismo contemporâneo.
O editorial cita como principal exemplo o caso recente da BBC, que admitiu falhas graves na edição de um documentário exibido pelo programa Panorama, uma semana antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos. Segundo a imprensa britânica, trechos de falas do então candidato Donald Trump foram editados de forma a sugerir incitação à violência. O episódio resultou na renúncia do diretor-geral da emissora, Tim Davie, e da chefe de jornalismo, Deborah Turness.
Além do caso envolvendo Trump, o Estadão menciona que a BBC também enfrenta questionamentos relacionados à cobertura da guerra em Gaza e a temas como imigração, questões transgênero e racismo. Para o jornal, tais episódios representam “violação da credibilidade” da emissora, historicamente associada à imparcialidade.
Críticas ao editorial
Apesar das reflexões trazidas pelo Estadão, o editorial também gerou críticas no Brasil, especialmente por parte de profissionais e observadores que apontam falta de autocrítica da imprensa nacional. Segundo essas avaliações, embora o jornal critique práticas de manipulação e viés ideológico no exterior, pouco aborda episódios envolvendo veículos brasileiros.
Críticos lembram, por exemplo, a atuação do Consórcio de Imprensa — grupo formado por g1, O Globo, Folha, Estado de S. Paulo, UOL e outros parceiros regionais — criado durante a pandemia de Covid-19 para divulgar dados diários de contaminação e mortes. Para esses analistas, o consórcio teria influenciado o debate público a partir de uma perspectiva politizada, alegação negada pelos veículos envolvidos.
O texto do Estadão também menciona números da Reuters Institute e estudos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) indicando predominância de posicionamentos ideológicos de esquerda entre jornalistas no Brasil e no Reino Unido. Para críticos do editorial, porém, o tema foi tratado de forma superficial pelo jornal.
Debate sobre credibilidade
Especialistas apontam que a discussão reacende um debate mais amplo sobre confiança do público e transparência editorial, especialmente em um contexto social marcado por polarização política e desinformação. Para estudiosos do jornalismo, a credibilidade das instituições de mídia depende tanto da correção de erros quanto da capacidade de reconhecer vieses internos.
Em análises publicadas nas redes sociais, comunicadores destacaram que a imprensa brasileira também atravessa um período de questionamento público, e que veículos precisam lidar com críticas relacionadas à cobertura política, uso de linguagem militante e mudanças de posicionamento histórico.
Herdeiros editoriais e revisões históricas
O debate mencionado por críticos inclui casos antigos, como os editoriais do jornal O Globo favoráveis ao regime militar na década de 1960, posteriormente revistos pela própria empresa mais de 40 anos depois. O episódio é frequentemente citado como exemplo de como linhas editoriais evoluem, mas também de como mudanças tardias podem gerar desconfiança.
O assunto é tratado com mais profundidade no livro Jornalismo: a um passo do abismo, que analisa transformações, controvérsias e desafios éticos do jornalismo brasileiro.





