União Africana: Ameaça de Trump à Nigéria coloca em risco a paz

A União Africana (UA) expressou preocupação nesta sexta-feira (7) com as recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que acusou o governo da Nigéria de ser “cúmplice” de “assassinatos seletivos de cristãos” e chegou a ameaçar uma intervenção militar no país africano.

Em comunicado oficial, a Comissão da UA afirmou que as declarações de Trump configuram “ameaças que podem colocar em risco a paz continental”, e reiterou o compromisso da organização com os princípios de soberania, não interferência, liberdade religiosa e Estado de Direito. A entidade também destacou o papel central da Nigéria na estabilidade regional e no combate ao terrorismo na África Ocidental.

“A Nigéria enfrenta desafios complexos de segurança que afetam cidadãos de todas as religiões, incluindo extremismo violento, banditismo, violência comunitária e conflitos por recursos”, diz o comunicado.

A UA rejeitou qualquer narrativa que “use a religião como arma ou simplifique os problemas de segurança” e alertou que “confundir toda forma de violência com perseguição religiosa pode impedir soluções eficazes e desestabilizar as comunidades”.

O bloco africano ainda exortou os Estados Unidos e outros parceiros internacionais a manterem o diálogo diplomático com Abuja, reforçando a cooperação e o intercâmbio de informações, “evitando recorrer a ameaças unilaterais de intervenção militar”, que poderiam afetar a paz continental e a estabilidade regional.

As críticas da UA vieram após Trump afirmar, no último sábado, que havia ordenado ao Departamento de Defesa americano que se preparasse para uma ‘possível ação’ na Nigéria com o objetivo de “eliminar terroristas islâmicos”. O republicano também acusou o governo nigeriano de “permitir o massacre de cristãos”.

Em resposta, o governo da Nigéria classificou as declarações de Trump como “infundadas e distantes da realidade”.

Desde 2009, o nordeste da Nigéria sofre com ataques do grupo jihadista Boko Haram, que luta para impor um Estado islâmico no país. A violência aumentou após o surgimento da dissidência Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP), em 2016.

Segundo dados oficiais, Boko Haram e ISWAP já mataram mais de 35 mil pessoas — muitas delas muçulmanas — e provocaram cerca de 2,7 milhões de deslocados internos, principalmente na Nigéria, mas também em países vizinhos como Camarões, Chade e Níger.

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Bruno Rigacci

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