Saiba por que o Ifood foi condenado a pagar quase R$ 1 bilhão em impostos
A plataforma de entregas iFood desembolsou quase R$ 1 bilhão à Receita Federal após decisão judicial que confirmou a exclusão da empresa do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse). O benefício havia sido criado em 2021 para ajudar empresas dos setores de turismo, eventos e entretenimento, duramente atingidos pelas restrições da pandemia de Covid-19.
A disputa teve início quando o iFood, que aumentou significativamente sua receita durante a pandemia, foi incluído no Perse com base em decisões judiciais provisórias. No entanto, uma sentença do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3), em agosto de 2025, confirmou o entendimento do governo de que a empresa não se enquadrava nas regras do programa, já que não pertence a um setor impactado pelas medidas sanitárias.
Empresa manteve benefício por liminares até 2025
De acordo com o tribunal, o iFood deveria ter voltado a pagar tributos em maio de 2023, após uma portaria do governo restringir o alcance do Perse. Mesmo assim, a empresa continuou usufruindo do benefício por meio de decisões judiciais temporárias até a definição do mérito.
Nos autos do processo, a Receita Federal apontou que o uso indevido do programa causou “enorme dano ao erário”, calculando que o iFood deixou de recolher mais de R$ 900 milhões em impostos federais — entre IRPJ, CSLL, PIS e Cofins.
O pagamento integral, segundo a empresa, foi realizado em parcelas nos meses de setembro e outubro de 2025. Em nota, o iFood afirmou que os valores já estavam provisionados em seu balanço, “sem impacto financeiro sobre as operações”.
A empresa também declarou que interrompeu o uso dos benefícios desde janeiro deste ano, após o fim das liminares que a amparavam.
Repercussão no governo e impacto fiscal
O pagamento dos valores pelo iFood ajudou o governo federal a melhorar o resultado fiscal de 2025, em meio aos esforços para cumprir a meta de déficit zero. O reforço de caixa veio após o Congresso Nacional derrubar a Medida Provisória 1303, que previa aumento de tributos e cortes de gastos.
Segundo a procuradora da Fazenda Nacional Raquel Mendes, o iFood foi “o maior beneficiário individual do Perse”, consumindo boa parte do limite de R$ 15 bilhões previsto para o programa.
“O iFood estava em primeiro lugar entre os beneficiários e consumiu parcela expressiva do limite total. Outros contribuintes chegaram a se sentir prejudicados por isso”, explicou Mendes.
Ela ressaltou ainda que o pagamento não reabrirá o Perse, uma vez que o programa foi encerrado definitivamente em abril de 2024.
Programa controverso e críticas do Ministério da Fazenda
Criado em 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro, o Perse tinha como objetivo preservar empresas e empregos nos setores mais afetados pelas restrições sanitárias. No entanto, o programa se tornou alvo de críticas por parte do atual governo, que o considera “mal desenhado” e responsável por perdas bilionárias de arrecadação.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem afirmado desde 2023 que o Perse foi “desvirtuado” e acabou beneficiando empresas que não sofreram prejuízos com a pandemia, como plataformas digitais e companhias de intermediação financeira.
Crescimento do iFood durante a pandemia
Dados da Receita Federal anexados ao processo mostram que o iFood aumentou drasticamente seu faturamento durante o período pandêmico:
Março de 2020: R$ 236 milhões em receitas tributáveis;
Dezembro de 2022: R$ 836 milhões;
Dezembro de 2024: R$ 1,2 bilhão.
Fundado no Brasil e controlado desde 2022 pela multinacional holandesa Prosus, o iFood se consolidou como a maior plataforma de delivery da América Latina, com operações em centenas de cidades e mais de 300 mil entregadores cadastrados.





