Otoni de Paula acusa Cláudio Castro de “ato de execução” em operação no Alemão e na Penha
O deputado federal e pastor Otoni de Paula (MDB-RJ) fez duras críticas ao governador Cláudio Castro (PL-RJ) após a operação policial realizada na última terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Em declarações à imprensa e em discurso na Câmara dos Deputados, o parlamentar classificou a ação como um “ato de execução”, segundo informações publicadas pela Folha de S.Paulo.
Otoni afirmou que os policiais atuaram “com liberdade para executar” e sugeriu que isso só seria possível com autorização implícita do governador.
“Nenhuma ação nesse nível e nessa gravidade ocorre sem que o policial se sinta protegido por alguma ordem do governador. Algo como ‘faça o que tem que fazer’”, declarou.
Segundo o deputado, o que foi descrito como um “muro de proteção” durante a operação seria, na verdade, um “muro da morte”, onde os suspeitos teriam sido levados para execuções.
“Levaram os criminosos — e não sei se haviam inocentes naquele local também — para um ato de execução”, disse.
Durante discurso na Câmara, o parlamentar relatou que quatro jovens de famílias ligadas à sua igreja foram mortos na ação e apontou motivação racista.
“Só de filho de gente da igreja, eu sei que morreram quatro. Meninos que nunca portaram fuzis, mas que estão sendo contados no pacote como se fossem bandidos. (…) Porque preto correndo em dia de operação na favela é bandido”, afirmou.
Otoni de Paula também expressou preocupação com a segurança de um de seus filhos, que trabalha em comunidades cariocas.
“É fácil para quem não conhece a realidade da favela subir na tribuna e dizer: ‘que bom, matou’. É porque o filho de vocês não está lá dentro, como o meu filho está o tempo todo. E o meu pânico é que ele é preto.”
O deputado informou ainda que pretende solicitar à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara (CDHMIR) que a Polícia Federal conduza uma investigação autônoma sobre a operação.
“O Estado do Rio perdeu as condições de investigar o que ele mesmo fez, essa carnificina. Você tem que ter o mínimo de autonomia investigativa”, disse.
A fala do parlamentar, que rompeu com a posição tradicionalmente alinhada ao governo fluminense e aos setores conservadores, surpreendeu aliados e reacendeu o debate sobre a violência policial e o racismo estrutural nas favelas do Rio de Janeiro.
(Até o momento, o governo do Rio de Janeiro e a Polícia Militar não comentaram as acusações do deputado.)





