Nunes provoca Boulos ao comentar ministério: ‘Primeira vez com carteira assinada’

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), comentou com ironia a nomeação do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República. Durante evento nesta terça-feira (21), Nunes alfinetou o adversário político: “Vai ter uma carteira assinada pela primeira vez, e desejo boa sorte a ele. Só isso”, disse, segundo a CNN.

A fala provocativa foi rapidamente criticada por aliados de Boulos, e também corrigida por especialistas: ministros de Estado, como os demais ocupantes de cargos do alto escalão do governo federal, não possuem vínculo trabalhista pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). São considerados agentes políticos, com direitos e deveres previstos na Constituição Federal e em leis complementares.

Em vídeos de campanha durante as eleições de 2024, quando enfrentou Nunes na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Boulos rebateu acusações semelhantes de que nunca havia trabalhado. “Eu trabalho como professor desde antes de terminar a faculdade de Filosofia”, disse na ocasião. O deputado também mencionou sua atuação como docente na escola estadual Maria Auxiliadora, em Embu das Artes, e como professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde lecionou no programa de pós-graduação em Governança Global e Políticas Públicas.

Além da ironia, Nunes classificou Boulos como um político de perfil “radical”, o que, segundo ele, causa preocupação. “A questão de ter pessoas radicais no governo federal é que preocupa. A gente precisa ter pessoas que dialoguem com todo mundo, né?”, afirmou. Ainda assim, reconheceu que a nomeação é uma prerrogativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): “Qualquer tipo de radicalismo é ruim. Mas é uma prerrogativa do presidente, evidentemente, deve saber o que está fazendo.”

Boulos assume cargo estratégico

A Secretaria-Geral da Presidência é responsável por articular o relacionamento do governo com movimentos sociais, sindicais e organizações da sociedade civil. A escolha de Boulos reforça a intenção do governo Lula de reaproximar-se de setores populares e lideranças sociais — especialmente aquelas ligadas à moradia e aos direitos urbanos.

Boulos tem longa trajetória nesse campo. Ele foi coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) entre 2002 e 2003 e continua como uma de suas principais lideranças. A atuação no MTST, embora reconhecida entre os apoiadores por sua organização e mobilização, também o transformou em alvo de críticas da oposição, que o rotula como “invasor de casas” — narrativa usada contra ele nas eleições municipais de 2020 e 2024.

Agora, como ministro, Boulos terá a missão de estreitar o diálogo do Planalto com movimentos sociais organizados, inclusive com o próprio MTST, em um momento de desafios econômicos e de crescentes demandas populares nas grandes cidades. A nomeação também fortalece o PSOL dentro da base aliada do governo Lula, ampliando seu espaço político em Brasília.

Rivalidade política ganha novo capítulo

A troca de farpas entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos marca mais um capítulo da disputa entre os dois, que se enfrentaram diretamente nas eleições municipais deste ano. Nunes, que busca a reeleição com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem usado a imagem de Boulos como “radical” para mobilizar seu eleitorado mais conservador. Por outro lado, Boulos tem se apresentado como representante da renovação política e defensor das pautas sociais, especialmente nas periferias paulistanas.

Com a ida de Boulos para o governo federal, é possível que os embates entre os dois ganhem ainda mais força nos próximos meses — agora, com Boulos ocupando uma posição central no Palácio do Planalto.

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Bruno Rigacci

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