Wall Street Journal sugere infiltração estrangeira em órgão dos EUA em caso Filipe Martins
O jornal The Wall Street Journal reacendeu as discussões sobre o caso do ex-assessor presidencial Filipe Martins, em uma coluna publicada neste sábado (19), assinada pela influente analista política Mary Anastasia O’Grady. A reportagem revela que a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos (CBP) admitiu formalmente ter cometido um erro no registro de entrada de Martins no país em dezembro de 2022 — dado que sustentou sua prisão preventiva no Brasil por decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O caso, que ganhou destaque internacional em 2024, volta agora ao centro das atenções com a revelação de que o CBP demorou mais de um ano e meio para reconhecer o equívoco, mesmo após a defesa de Martins apresentar documentos comprovando que ele jamais deixou o Brasil naquele período.
“O Brasil penetrou na divisão de fronteira?” — pergunta o Wall Street Journal, sugerindo que a origem do erro pode não ter sido apenas um deslize técnico.
Suspeita de manipulação e “interferência estrangeira”
O’Grady vai além da crítica à burocracia americana e levanta a possibilidade de que o sistema da CBP tenha sido alvo de adulteração intencional — uma acusação grave, com potenciais implicações diplomáticas.
Segundo a colunista, o fato de o documento fraudulento ter sido usado como base para uma medida judicial no Brasil levanta a suspeita de interferência política dentro do próprio sistema de imigração dos EUA.
“O caso não parece ter sido um simples erro burocrático”, escreve O’Grady. “O público não saberá a verdade até descobrir quem entrou no sistema e criou o registro fraudulento.”
A coluna menciona ainda que os documentos fornecidos pelo CBP à Justiça e às autoridades americanas vieram com trechos censurados, omitindo nomes de servidores, horários de acesso e registros de alterações no banco de dados — um comportamento que reforça, segundo o jornal, a hipótese de encobrimento.
Registro falso foi base para prisão no Brasil
A entrada supostamente registrada em 30 de dezembro de 2022 indicaria que Filipe Martins havia acompanhado o então presidente Jair Bolsonaro em uma viagem a Orlando, nos Estados Unidos. A informação foi considerada como tentativa de fuga e embasou a decisão do STF pela prisão preventiva de Martins.
Entretanto, a defesa do ex-assessor apresentou provas contundentes de que ele permaneceu em Brasília durante o período — incluindo registros bancários, de localização por celular e testemunhos presenciais. Mesmo assim, o dado incorreto foi mantido nos autos do processo por vários meses.
Caso ganhou repercussão internacional a partir de 2024
Desde julho de 2024, o Wall Street Journal tem acompanhado de perto o caso. Em seu primeiro artigo, Mary O’Grady já havia apontado inconsistências nos registros da CBP e criticado o que considerou um uso político de dados frágeis pela Justiça brasileira.
Em uma segunda coluna, publicada em julho de 2025, a jornalista revelou que o registro falso havia sido removido do sistema da CBP, mas reapareceu meses depois — reforçando suspeitas de adulteração interna.
“Alguém trabalhando dentro do CBP, em nome de interesses políticos brasileiros opostos a Bolsonaro, teria uma motivação”, escreveu O’Grady à época.
A advogada de Filipe Martins, Ana Bárbara Schaffert, acionou a Lei de Liberdade de Informação (FOIA) nos Estados Unidos para obter documentos que comprovem como e quando o erro foi inserido no sistema. No entanto, o jornal relata que as respostas do governo americano seguem incompletas e censuradas.
Implicações diplomáticas e institucionais
A nova reportagem levanta não apenas preocupações jurídicas, mas também políticas. A possibilidade de que dados do CBP tenham sido manipulados por terceiros — com ou sem a conivência de agentes internos — implica em uma vulnerabilidade sistêmica no controle de fronteiras dos EUA. Caso se confirme a hipótese de interferência externa, o caso pode evoluir para um incidente diplomático entre Brasil e Estados Unidos.
A pergunta final da reportagem ecoa o tom de gravidade:
“O que é pior? O crime ou o encobrimento?”