Sinais preocupantes vindos das estatais

A atuação do Partido dos Trabalhadores (PT) na condução de empresas estatais tem sido tema recorrente de debates políticos e econômicos desde o início dos anos 2000. A Petrobrás, em especial, tornou-se o símbolo mais evidente das críticas à gestão petista, com escândalos de corrupção bilionários, perda de valor de mercado, mudanças de rumo estratégicas e uma recuperação parcial ocorrida a partir de 2016.

Durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2006, e ao longo dos governos da ex-presidente Dilma Rousseff, a estatal passou a ser centro de investigações da Operação Lava Jato, que apontou desvios de cerca de R$ 40 bilhões em contratos superfaturados e pagamento de propina a políticos e partidos — incluindo o PT. Projetos como a Refinaria Abreu e Lima, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a controversa compra da Refinaria de Pasadena foram alvos das principais denúncias.

Com a queda do preço do petróleo no mercado internacional a partir de 2014, a fragilidade das finanças da Petrobrás se tornou visível. Os lucros registrados até 2013 — que giravam em torno de R$ 20 bilhões anuais — deram lugar a prejuízos expressivos, chegando a R$ 35 bilhões em 2015 e R$ 13 bilhões em 2016.

A reversão desse cenário teve início ainda em 2016, após o impeachment de Dilma Rousseff. Durante os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, a estatal passou por um processo de reestruturação que incluiu redução de dívida — de quase R$ 500 bilhões em 2015 para cerca de R$ 280 bilhões em 2022 —, foco na atividade-fim (exploração e produção de petróleo) e desinvestimento em áreas como gás, fertilizantes, petroquímica e refino. O lucro anual médio da empresa entre 2019 e 2022 girou em torno de R$ 85 bilhões.

A recuperação também passou pela devolução de parte dos recursos desviados. Até hoje, cerca de R$ 8 bilhões foram ressarcidos à estatal, uma fração do total estimado como perdido.

Retorno a velhas práticas?

Com o retorno do presidente Lula ao Palácio do Planalto em 2023, a Petrobrás passou a reavaliar sua estratégia de negócios. Entre os novos movimentos, estão a retomada de investimentos em setores fora do foco principal — como fertilizantes e gás de cozinha — e a reativação de obras paralisadas por suspeitas de superfaturamento, como o Comperj e a segunda etapa da Refinaria Abreu e Lima.

Esses sinais geraram apreensão em analistas e parlamentares. O programa “Gás do Povo”, por exemplo, prevê a atuação direta da estatal na distribuição de gás de cozinha, enquanto a empresa estuda retomar sua participação no varejo de combustíveis. O receio é de que a empresa volte a operar com forte influência política e pouca disciplina de capital.

Banco do Brasil e os desafios no crédito agro

Durante o primeiro ciclo petista no poder, o Banco do Brasil manteve-se relativamente preservado de denúncias de corrupção. No entanto, nos últimos anos, a instituição vem enfrentando perda de espaço no mercado de crédito agrícola, onde já deteve mais de 80% de participação.

Mudanças no perfil dos tomadores de crédito, aumento no endividamento dos produtores e a entrada de novos financiadores privados reduziram a competitividade do banco, que insiste no modelo de penhor de safra, enquanto concorrentes operam com garantias mais eficazes, como a alienação fiduciária da terra.

A consequência foi o aumento da inadimplência no setor agropecuário e a previsão de queda drástica no lucro da instituição: de mais de R$ 30 bilhões em 2024 para cerca de R$ 15 bilhões em 2025.

Correios: prejuízos bilionários e investigação

A situação mais crítica entre as estatais é a dos Correios. Após registrar lucro médio de R$ 600 milhões entre 2017 e 2022, a empresa voltou a apresentar prejuízos significativos. Em 2023, a estatal fechou o ano no vermelho em R$ 600 milhões. Em 2024, as perdas saltaram para R$ 2,6 bilhões, e, apenas no primeiro semestre de 2025, chegaram a R$ 4,3 bilhões.

Diante dos resultados negativos e de denúncias de má gestão, o Senado aprovou uma proposta de fiscalização e controle para apurar possíveis irregularidades na administração da empresa.

Eletrobrás: alívio com a privatização

A Eletrobrás, que ficou fora do programa de privatizações durante os governos do PT, demandou cerca de R$ 40 bilhões em aportes do Tesouro Nacional entre 2003 e 2021. A empresa foi privatizada no governo Bolsonaro, o que encerrou o ciclo de interferência estatal direta. Desde então, a Eletrobrás passou a operar com mais autonomia e foco empresarial.

Riscos à governança

Aprovada em 2016, a Lei das Estatais buscou blindar essas empresas de ingerência política, impondo critérios técnicos para nomeações e impedindo a indicação de políticos com mandato ou pessoas ligadas a partidos. No entanto, em 2022, o Supremo Tribunal Federal considerou algumas dessas restrições “excessivas”, o que na prática flexibilizou as regras de nomeação.

Com a possibilidade de um novo mandato de Lula a partir de 2026 — e a consequente consolidação de maioria no STF —, aumentam os receios sobre o futuro da governança nas estatais. O histórico recente, somado a decisões judiciais e movimentações estratégicas das empresas, indica um cenário de incerteza e potencial retorno de práticas que marcaram negativamente os governos anteriores.

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Bruno Rigacci

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