Bolsonaro pode aparecer na campanha de 2026 mesmo preso? Entenda o que a lei permite
Apesar do entusiasmo crescente entre lideranças do centrão e do empresariado em torno de uma possível candidatura de Tarcísio de Freitas à Presidência da República em 2026, o governador de São Paulo tem demonstrado dúvidas sobre entrar na disputa. Segundo aliados próximos, ele considera mais vantajoso concluir dois mandatos no Palácio dos Bandeirantes e deixar o projeto nacional para 2030.
O cálculo político é estratégico: Tarcísio, eleito em 2022 com o apoio de Jair Bolsonaro, teria ampla vantagem para conquistar a reeleição em São Paulo, e os próximos quatro anos lhe permitiriam consolidar uma identidade própria, ampliar apoios e se desvincular politicamente do ex-presidente, hoje inelegível e condenado.
“Ele pode ser o único nome viável da direita para vencer Lula em 2026. Mas talvez prefira ser o nome incontestável em 2030”, resume um interlocutor próximo ao governador.
Motivos para esperar: Lula, desgaste da direita e projeção futura
Entre os fatores que pesam contra uma candidatura já em 2026, aliados citam:
Favoritismo em SP: A vantagem de manter o controle do estado mais rico do país até 2030.
Cenário nacional adverso: A direita ainda vive sob os efeitos da crise causada pelos atos golpistas de 8 de janeiro e das condenações de Bolsonaro.
Evitar Lula como incumbente: O atual presidente tentará a reeleição com a força da máquina federal e vem se recuperando nas pesquisas.
Distância de Trump: A recente decisão do ex-presidente americano de elevar tarifas sobre o Brasil causou constrangimento a aliados bolsonaristas.
Mas há um fator que pode mudar tudo: Bolsonaro
Apesar do raciocínio político racional apontar para 2030, um único elemento pode mudar a decisão de Tarcísio: um apelo direto de Jair Bolsonaro.
Interlocutores do governador afirmam que um chamado público do ex-presidente, tratando a candidatura como uma “missão” para a direita, teria peso suficiente para levá-lo à disputa já em 2026 — mesmo com os riscos e custos envolvidos.
A expectativa é de que esse aceno possa vir em breve. Na segunda-feira (29), Tarcísio visitará Bolsonaro em Brasília, onde o ex-presidente cumpre prisão domiciliar, e o gesto é visto como simbólico no tabuleiro político.
“Se o ‘capitão’ pedir, o ‘capita’ vai pensar duas vezes antes de dizer não”, ironizou um dirigente do PL.
Centrão prefere Tarcísio, mas já flerta com Ratinho Jr.
Enquanto aguarda uma definição de Tarcísio, o centrão mantém suas cartas na mesa. O nome do governador do Paraná, Ratinho Júnior, já é considerado uma alternativa viável e mais entusiasmada com a ideia de concorrer.
Mesmo assim, lideranças do centrão seguem pressionando por Tarcísio, que é visto como o único capaz de unir direita, centro e setores do empresariado numa candidatura competitiva contra Lula.
A ideia ventilada por dirigentes como Ciro Nogueira, presidente do PP, é de que uma vitória da oposição em 2026 poderia abrir caminho para reverter a situação judicial de Bolsonaro — o que daria ainda mais sentido à candidatura de alguém próximo e fiel como Tarcísio.
“Acho uma crueldade deixar um homem de bem e honesto, como Jair Bolsonaro, preso por muito mais tempo […] caso a oposição não vença as eleições do ano que vem”, escreveu Ciro nas redes sociais, numa mensagem indireta ao governador paulista.
Entre a lealdade e a autonomia
Tarcísio de Freitas tem procurado manter uma posição de equilíbrio. Fiel a Bolsonaro, a quem deve sua entrada na política, ele também se mostra alinhado com o empresariado, com governadores e com alas moderadas do Congresso — o que pode se chocar com a estratégia bolsonarista mais radical.
A visita desta segunda-feira (29) pode ser decisiva para o próximo capítulo da direita brasileira. A depender do tom do encontro, Tarcísio pode continuar focado em São Paulo — ou ser lançado como o nome da “salvação” bolsonarista em 2026.