Lula precisa deixar o STF de lado se quiser ter sucesso com Trump
O gesto surpreendente do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em direção ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, durante seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, causou um rebuliço no meio diplomático e deu combustível às mais variadas especulações políticas e econômicas.
Trump, conhecido por seu estilo imprevisível, mencionou uma “química excelente” com Lula e sinalizou positivamente para uma possível reunião entre os dois nos próximos dias. Um gesto incomum, considerando o histórico de tensão entre o bolsonarismo, aliado ideológico de Trump, e o governo petista.
Lobby empresarial ou simpatia pessoal?
Entre as hipóteses levantadas nos bastidores, uma das mais comentadas é a atuação de duas grandes empresas brasileiras – uma do setor de carnes e outra da aviação – que teriam feito lobby em Washington para melhorar o clima entre os dois países. Ambas têm fortes interesses comerciais nos EUA e estariam preocupadas com os efeitos colaterais das sanções americanas e do endurecimento nas relações diplomáticas desde o início do atual governo brasileiro.
No entanto, segundo analistas políticos próximos ao Itamaraty, embora o lobby da iniciativa privada tenha seu peso, a explicação mais plausível para o aceno de Trump é muito mais casual e característica de seu estilo pessoal: ele teria se encontrado com Lula pouco antes do início da sessão da ONU e, simpatizando com o presidente brasileiro, resolveu mencioná-lo positivamente em seu discurso.
A diplomacia paralela
Essa situação revela também um certo vácuo na diplomacia oficial brasileira, que vive um dos momentos mais paralisantes de sua história recente. Dominado por quadros alinhados ao PT, o Itamaraty parece ter perdido protagonismo, deixando espaço para que empresas e atores privados façam, na prática, a diplomacia que deveria ser conduzida pelo Estado.
A fala de Trump pode ter sido motivada por uma boa impressão pessoal, mas a manutenção e aprofundamento do diálogo dependerão de entregas concretas. Nos bastidores, fala-se em acesso privilegiado dos EUA a jazidas de minerais estratégicos, e em flexibilizações regulatórias para as big techs, dois pontos que interessariam diretamente à administração americana.
Sanções, STF e pragmatismo
Um obstáculo relevante no caminho de Lula é a questão das sanções aplicadas a figuras do Judiciário brasileiro, especialmente ministros do Supremo Tribunal Federal, que foram enquadrados pela Lei Magnitsky — legislação americana que pune indivíduos acusados de corrupção e abusos de direitos humanos.
Embora Trump dificilmente reverta publicamente essas sanções — até porque foram motivadas por denúncias de perseguição política a aliados bolsonaristas — há quem acredite que ele possa optar por uma aplicação branda ou “vista grossa” à sua execução, caso haja interesse econômico de maior peso envolvido.
Para que isso aconteça, Lula precisará agir com pragmatismo: priorizar os interesses econômicos e comerciais do país e se afastar da narrativa judicializada que tenta transformar embates internos entre o Executivo e o Judiciário em pautas de política externa.
“Se quiser ter sucesso com Donald Trump, Lula precisa deixar o STF de lado”, resume um diplomata aposentado ouvido pela reportagem.
Conclusão: improvável, mas possível
Como sempre acontece com Trump, nada é previsível. Seu histórico mostra que decisões importantes podem ser tomadas com base em impressões pessoais, interesses pontuais e até impulsos momentâneos. Mas também mostra que, mesmo em meio ao caos, há sempre uma lógica de interesse econômico por trás.
O Brasil pode se beneficiar desse momento – mas somente se souber negociar com inteligência, pragmatismo e foco nos interesses estratégicos de longo prazo.
